7 de julho de 2010

Mais uma história


Na mesa da sala o futebol de botão, no coração a esperança de um Brasil campeão. Mas, ele não sabe, não sabe que sua vida seria interrompida. Felizmente, sua inocência o manteria vivo, com esperança. Que direito eles tem de afastá-lo da escola, dos amigos, de privá-lo de um lar? Ele não tinha como saber que a promessa do pai nunca seria totalmente cumprida. “Espera, na Copa estaremos de volta .”
Em apenas uma tarde, tudo mudaria. Casa, rua, bairro, Estado. Por um bom tempo, não teria mais o carinho da mãe. Pela última vez, o pai arrumaria os goleiros de seu futebol de botão. A última visão dos pais juntos. Mas, em nenhum momento se quer, enquanto tentava se adaptar e entender a nova vida, ele se cansou de esperar. Esperava como se fosse o primeiro dia, mesmo sem saber ao certo o que viria depois dessa espera.
Então, firme ele se manteve. Nada podia afastá-lo da doce esperança de rever os pais. Enquanto a angústia nascia no silêncio do telefone e explodia no vazio da rua, a varanda da casa do avô se tranformava nos olhos do coração. É injusto obrigar um ser tão inocente a entender essa ausência tão repentina.
Um dia, como que trazida pelas mãos da inocente esperança, sua mãe finalmente chega, sozinha. Na cama, o abraço há muito esperado, há muito roubado. Sem entender como e por que, ele se tornou órfão de um pai herói, de um pai torturado e silenciado pelos braços fortes dos anos de chumbo.
A intolerância da ditadura escreveu inúmeras histórias como essa. Calou vozes e levou muitos pais, mães, filhos... Como justificar tamanha barbárie? Como passar por cima de tanta dor, de tantos sonhos e famílias violados? Esquecer!?... Mas, a história pode ser contada por várias vozes e talvez a única que nos de um acalanto seja a da inocência. O ponto de vista dos que, naquele época, viviam os sonhos e a doçura da infância.

Um comentário:

Letycia Holanda disse...

Posso dizer que este texto é um dos mais lindos, intenso! Não palavra para expressar o que provoca na alma da gente! Parabéns!

Periodo da história que jamais deve ser esquecido, tem que ser a roda que impulsiona o moinho!

Você revela um ser tão grande, não deixe que ele se perca pelas pedras no caminho!

Grande beijo...