18 de dezembro de 2008

Feliz Natal!


Mesmo com a correria de final de ano o Senado achou um tempinho para aprovar, nesta madrugada, a emenda que aumenta em, 7.343, o número de vereadores em todo o país. Pelo visto, quando se trata de seus interesses, e não da população, nossos representantes defendem com unhas e dentes seu território. A aprovação da emenda aconteceu em meio a muita discussão, o motivo da contenda? O vereador Ivan Duarte (PT-RS) disse à imprensa que é contra a aprovação da emenda, argumento suficientemente aceitável para despetar a ira dos que estavam no Senado, desde o começo da semana para a votação (isso sim pode ser considerado milagre natalino).
Enquanto isso, o país sofre com as constantes chuvas que submergem toda a esperança e dignidade brasileira. Nos jornais, imagens da força da natureza e da fragilidade humana. Mas imediatamente nossa atenção é desviada para o mega show da grande rainha pop, Madonna (mais um modelo importado dos Estados Unidos).
Sim, mais um final de ano e a história se repete. Na televisão, as mesmas porcarias, nas ruas a insana corrida contra o tempo para não esquecer nenhum presentinho e nossa constante inercia diante dos fatos que realmente interferem em nossa vida.

Eça de Queiroz!

" Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão."

13 de dezembro de 2008

Vinicius...

"Dentre os instrumentos criados pela mão do homem, só o violão é capaz de ouvir e de enterder a Lua"

7 de dezembro de 2008

Olá,




Vários sonhos podem ser considerados utópicos, mas com certeza “Mudar o mundo” é o primeiro dessa lista. Hoje o que é considerado utopia, há 40 anos, era tão real quanto a estúpida Guerra do Vietnã, onde milhares foram massacrados a troco de nada. O sentimento ia de encontro com o pensamento predominante, movimentos isolados nos quatro cantos do mundo, pregavam um mundo mais justo e humano.
Mas até onde esse desejo é utópico? Em 2000, representantes de 124 Estados decidiram tornar mais uma vez esse sonho real. Criaram oito metas, cuja execução, o mundo todo está comprometido. As metas refletem as necessidades mais urgentes da humanidade doente, uma doença que transforma o dinheiro e o poder em deuses e o ser humano num mero detalhe.
O soro para essa doença se encontra nas pequenas demonstrações de carinho e respeito mútuo. Os repórteres, editores e fotógrafos da revista Humanize, já assumiram o compromisso de mostrar o que está sendo feito para o cumprimento dessas metas. Cada ação é importante para mostrar que a vida é feita de coisas impossíveis, assim dizia Mario Quintana. "Se as coisas são inatingíveis... ora! Não é motivo para não quere-las... Que tristes os caminhos, se não fora a mágica presença das estrelas!” ·
É estranho pensar que, entre tantas outras coisas, essas pessoas resolveram fazer a diferença num mundo onde tudo é muito igual. Onde o outro nunca pode ser você e onde existe uma imensa barreira entre os verdadeiros sentimentos e as ações. Elas simplesmente transcenderam as barreiras e a vida, acharam outro motivo para estar aqui. Diferentemente da maioria de nós, aceitaram ser o outro, num simples gesto de se abaixar, segurar a mão e caminhar junto.Mais do que contar histórias, nossas matérias convidam a uma reflexão maior e a pensar um mundo sob outras perspectivas. Cada pensamento estrutura uma ação, então basta apenas colocá-la em prática. O velho discurso de que problemas sempre existirão, já foi dito amiúde pelos céticos racionais da história. Então por que não deixar a construção de um novo mundo nas mãos dos sonhadores de plantão?

12 de novembro de 2008

Uma casa do tamanho de São Paulo

A cozinha são os bares da cidade, o sofá cede lugar ao pequeno banco de madeira e os transeuntes são os vizinhos. Seu João deixa a cidade de Francisco Morato antes do sol nascer e faz das ruas da cidade uma segunda casa


Uma cama e um armário é tudo o que espera por ele em sua casa em Francisco Morato. Ele não precisa de mais nada, sua maior carência é não ter alguém para compartilhar conversas e sentimentos. Seus atos e palavras traduzem o medo e a repulsa da solidão. No meio de dezenas de rostos o seu destoa entre a multidão que mais parece um exército marchando para lugar nenhum. Mas ao mesmo tempo ele está esquecido, num lugar bem abaixo de nossa visão.
Sempre sentado no mesmo lugar, é muito raro não encontrá-lo em baixo da árvore em frente ao Parque Trianon Masp. De longe já reconheço sua silhueta. Os poucos cabelos brancos contrastam com a pele queimada do Sol e a força de suas expressões faciais, que nem mesmo as marcas deixadas pelo tempo conseguiram encobrir. Quem o vê, nem imagina que o motivo maior de sua permanência nas ruas é afugentar as lembranças de um passado marcado por grandes perdas. Na frieza dos asfaltos dos grandes centros urbanos encontra uma alternativa, um refúgio para a solidão.
O senhor de aparência frágil, que pede esmolas traz consigo um potinho, onde as pessoas depositam o dinheiro doado, um banquinho sobre o qual se senta, uma mochila com algumas coisas para passar o dia e um sorriso sincero que só percebi, quando me aproximei. Seu nome é João Jacob, dois apóstolos de Cristo também tinham esses mesmos nomes, detalhe que ele faz questão de lembrar.

As perdas do caminho
São José do Rio Preto, cidade das lavouras de café, é também o lugar que viu seu João Jacob nascer, há 86 anos. Foi dessas terras
repletas de café que seu pai tirou o sustento da pequena família, sua mulher e apenas um filho. Aos 12 anos, o menino viu sua família ficar menor ainda, seu pai sofrera um infarto e o deixara com a responsabilidade de ser o único homem da casa e conseqüentemente, com a obrigação de sustentar sua mãe. Abandonou a escola e, seguindo a mesma profissão do pai, passava os dias nas lavouras de café.
O trabalho na lavoura além de sustentar a casa, também o fez forte. Seu João fala com orgulho e tristeza da força física que tinha. Hoje seus olhos se enchem de lágrimas ao se lembrar que além de não ter um braço, também envelheceu sozinho. Mas as oito décadas de vida, só são denunciadas pela sua aparência, a mão entrevada pela artrite e os pés inchados e cinzentos que a falta de circulação do sangue deixa de lembrança. A alma de seu João traz uma vontade imensa de viver e ao mesmo tempo uma tristeza que refletem em seus olhos.
“Minha mãe saia, então eu deixava tudo limpinha para ela”
Sua vida é marcada pela morte das pessoas que amou, além do pai, sua mãe também o deixou muito cedo, com 15 anos seu João se viu sozinho no mundo. Mas o costume das pequenas cidades do interior, onde as pessoas se casam muito cedo, o ajudou a achar conforto em sua esposa.
Dez anos depois, a vida corria normal, seu João trabalhava na lavoura, tinha uma casa, uma mulher e filhos. Até o dia em que ele perde mais uma vez. Enquanto trabalhava no cafezal, fora mordido por uma cobra de café, espécie muito comum nessas plantações, que pode ser facilmente confundida com as folhas por sua cor verde. A falta de informação e de cuidados necessários fizeram com que a mordida se transformasse em uma gangrena, sem chance de salvar seu braço.
Hoje seu João é aposentado e sabe se cuidar muito bem sem um dos braços, ele pega ônibus sozinho, vai ao médico e cuida da casa. Ele conta que pede esmolas para completar a renda, pois toma muitos remédios e ainda ajuda a cuidar dos seis netos, que moram no mesmo quintal. Apesar dos 13 filhos, dez do primeiro casamento e três do segundo, as crianças e o filho são os únicos parentes com quem seu João tem contato. Porém, seu filho parece não perceber a imensa falta que faz ao pai.

Hora de esquecer
Cada um tem uma história, algumas são difíceis de acreditar e a da vida de seu João é uma dessas, não que ele tenha realizado grandes feitos ou coisa parecida. Ele apenas passou e passa pela vida carregando feridas que resultaram na grande solidão que sente.

“Na vida só tive sofrimento”

Depois de perder a primeira esposa e um dos filhos, fatos que não gosta muito de comentar, ele decidiu ir embora de São José do Rio Preto, na esperança de deixar para trás todas as tristezas que a cidade fora testemunha. Esses acontecimentos deixaram muitas dores em seu João e até hoje ele não pensa em voltar para o local onde nasceu. “Estou desgostoso de voltar para lá”.
Trocou São José pela cidade de Santos e foi no litoral que ele achou um novo amor. Sua segunda esposa, Antonia, morava no mesmo prédio que se instalara assim que chegou na cidade portuária. Casada e com um filho pequeno, ela vivia ameaçada pelo marido que bebia muito. Depois de algum tempo de conversa eles decidiram viver juntos e o lugar escolhido foi a capital de São Paulo.
Para sustentar a nova família que ganhara, ele trabalhava como camelô. Tinha uma barraca onde vendia miudezas, mas como não conseguira a licença para trabalhar a fiscalização levou toda sua mercadoria. Foi a partir daí que seu João começou a pedir.

Vista de baixo
Sentada no chão, ao lado de seu João pude comprovar mais uma vez as dicotomias de nossa existência. Embaixo, onde apenas os pés alcançam, encontrei a maior expressão da palavra solidão, significado que dicionário algum conseguirá exprimir. Em cima, no mundo das aparências, são poucos os que conseguem perceber o pedido de atenção que sai não da boca, mas sim dos olhos de seu João, o egoísmo e a pressa de um mundo cada vez mais exigente, muitas vezes não deixam percebê-lo.
Em nossas conversas seu João deixa transparecer todo o desespero por estar sozinho, numa mistura de desabafo e súplica, ele fala que prefere o movimento da rua às paredes mudas de sua casa. Porém, a solidão de seu João não é dessas que levam as pessoas ao enclausuramento. Ao contrário, o simpático senhor não alimenta esse sentimento e busca esquecê-lo em cada esquina, nas conversas com quem se aproxima e nas amizades que conquistou nessas quase três décadas de mendicância.
Ele intercala suas histórias entre o passado e o presente. Hoje a companhia do café-da-manhã é o atendente do bar, almoça e passa a maior parte de sua vida nas ruas. Tem lugares fixos para pedir, vai a quase todas as festas religiosas da cidade, assiste às missas e faz amizades aonde vai. “O pessoal gosta muito de mim, eles me ajudam muito, tudo o que tenho é ganhado.”
“O que vou ficar fazendo em casa sozinho, olhando para as paredes?”
Quando volta ao passado, mais uma vez seus olhos se enchem de lágrimas. “Eu estava com ela na ambulância quando o médico entrou e falou que não tinha mais nada a fazer, a mulher já está morta”. Foi assim que seu João perdeu sua última esposa. Ela tinha diabetes, mas não sabia, adorava comer doces e ele sempre os trazia para ela. Essa foi uma das poucas vezes que vi seu João chorar, enquanto ouvia as histórias de sua vida.
Seu João pede esmolas há aproximadamente 30 anos, tempo bastante para se acostumar com os olhares dos quais é alvo. Sentado no pequeno banco ele se sente em casa, toma os remédios, come e até cochila. Por duas vezes precisei acordá-lo para conversamos. Na primeira vez que me sentei ao seu lado, era impossível não perceber a reação das demais pessoas, os olhares variavam entre pena, indiferença, solidariedade e medo. Mas o pior de tudo é, que muitas vezes ele não é visto.
Ao final de cada conversa, enquanto me distancio do pequeno mundo solitário de seu João, vejo sua silhueta mais uma vez se afastar, outra vez misturada entre as dezenas de rostos que aparentemente não dizem nada.

4 de outubro de 2008

Dores da alma

De dentro do quarto improvisado no pequeno barraco, a criança chora e na cozinha a mãe também o faz. Diante da mesa vazia e do descaso da humanidade, as lágrimas se transformam em súplicas de um coração materno. A Tv desligada não mostra sua história. A mãe sabe, apenas de ouvir falar, das cenas que a máquina narra, mas para ela e seu filho algumas cenas são tão reais e causam tanta dor. O pequeno anjo agora dorme e enquanto sonha, na mais bela inocência, aumenta o número dos que passam fome. O sono agora é um alívio, para ambos. Ela se pergunta, mas não acha o caminho, apenas vaga pela miséria da vida e de suas esperanças. O que fazer com tanto desespero? Onde curar a dor da fome e do coração? E lá fora, o vento gelado sopra as mesmas desilusões, se ao menos todos se ajudassem? Por que eles não tentam dividir também as dores e não somente os humanos? Agora outro filho, que não se sente filho, volta a chorar e desesperadamente tenta sonhar. Além da comida, o que lhe falta é também ternura, toda a preocupação contida no abraço quente da noite e a certeza de não saber o que é a solidão. O medo e o silêncio mortal das noites sobram a muitos, mas isso agora não importa, há coisas mais valiosas que um pedido de socorro. Quem sabe para o próximo mandato? O pequeno barraco reúne todas as dores do mundo, não é o mundo perfeito onde muitos pensam viver. Essa irritante inércia insiste em gritar que nem tudo é igual na dor, ao menos para isso ela serve. Felizmente somos capazes de medir os sofrimentos, só não capazes de senti-los e às vezes o sentido conceitual das relações humanas é praticado por que não o conhece. Mas, entre as angústias essas simples e serenas relações, enchem de esperança a noite das nuvens perfeitas e trazem de volta aquele antigo brilho do céu.

9 de agosto de 2008

Planetário

Depois de mais de 2 mil anos de evolução, finalmente o homem tem em suas mãos, o domínio da tecnologia . No ar seus imponentes prédios e construções monumentais, no mar seus navios e submarinos, e as estradas, essas já estão engarrafadas, intrafegáveis, contudo, todo cidadão tem o direito a ter seu veículo.
Mas eis que em meio a tanto “sucesso”, o destino se mostra irônico a nós, pobres mortais. Hoje, fui ao parque do Ibirapuera para ver a exposição “Filhos do Brasil”, que reúne fotos de diferentes artistas e lugares brasileiros. Trata-se de um retrato da infância em nosso país. Ao contrário do que deveria ser, essas imagens, mostram nossas crianças sem futuro, enfrentando a realidade da fome e do abandono.
Sob uma garoa fina e um vento gelado, as imagens estavam lá, para quem as quisesse ver, mas infelizmente, nem todos estavam interessados nos olhares, expressões e até mesmo, sorrisos destes pequenos brasileiros. As pessoas passavam indiferentes, talvez acostumadas com essas imagens no seu cotidiano.
A garoa aumentou e se transformou em chuva grossa, todos correram para se proteger sob o planetário. Lá dentro a apresentação do nosso céu, das mais de centenas de bilhões de estrelas e planetas e é exatamente ai, que mostramos nossa mediocridade, utilizamos a mesma tecnologia, que está destruindo nosso planeta, para conseguir enxergar as estrelas. Será que algum dia enxergaremos além de nossos próprios umbigos?

21 de abril de 2008

Razão na Base

Como será a vida de uma pessoa sem crenças? Ter o pensamento racional na base de seus princípios? Nossa reportagem conversou com dois ateus para entender melhor seu modo de pensar
Por Carlos Ferreira

Um senhor, bem humorado, sorridente, com seus cabelos brancos, 63 anos e óculos de aros redondos, conversando com um segurança do Centro Cultural São Paulo a espera de um repórter.
Este é Isaias Edson Sidney, dramaturgo, nascido em uma família católica, religião que ele mesmo seguiu fervorosamente até seus 14 anos, porém após ser apresentado ao espiritismo por seu irmão mais velho, começou a ler a bíblia com outro olhar, o olhar crítico e depois de estudar e conhecer outras filosofias se tornou ateu.
Isaias é um dos rostos da pesquisa realizada em 2004 pelo Ceris (Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais) onde foi identificado que 7,8% dos brasileiros são ateus ou sem religião.
Ser ateu como o próprio nome diz é não ter crença em um deus, seja ele Alah, Jeová, o Deus dos cristãos, ou outros nomes dados a esta divindade que é cultuada nas religiões monoteístas, ou seja, de apenas um deus supremo. O ateísmo é uma oposição ao teísmo, que tem como crença uma divindade como criadora da vida e esta pode ser demonstrado racionalmente, o deus dos teístas é conhecido como o deus dos filósofos.
O ateísmo vem aumentado conforme o tempo, mas no Brasil o preconceito contra estas pessoas é algo muito evidente. Em 2007 foi realizada uma pesquisa pela CBT/Sensus em parceria com a Revista Veja, nesta foi identificado que 59% dos entrevistados não elegeriam um candidato para o cargo de presidente da República se este fosse ateu, os negros tiveram 1% de rejeição, as mulheres 12% e os homossexuais 34%.
Para os pensamentos de Isaías esta pesquisa pode não ser tão concreta “Na condição de ateu, você pode ser o que quiser ter princípios éticos e não-éticos, qualquer um pode ser ateu”.
Isto pode ser confirmado com Paula Renata Pereira, 21, ex-estudante de publicidade e propaganda que hoje trabalha como operadora de cobrança.
Com idade e profissão diferentes de Isaías, Paula também é atéia e se declara como tal onde vai, percebe o preconceito citado nesta pesquisa e relata uma situação onde foi o personagem principal do preconceito de uma colega “Fui apresentada a uma colega e ao me declarar atéia, ela perguntou para uma de minhas amigas se não era perigoso andar em minha companhia”.


Filosofia de vida?

O ateísmo é considerado pela teologia um conceito filosófico, um conceito moderno, pois está critica a religião ocidental também é moderna.
Este conceito de filosofia começou a aparecer no século 18 com o Iluminismo “Os iluministas acreditavam que a existência de deus não podia ser demonstrada racionalmente”, diz Etienne Alfred Higuet, doutor em teologia pela Universite Catholique de Louvain na Bélgica, país em que nasceu e se formou.
Outra forma filosófica do ateísmo segundo Etienne são as filosofias de Sartre, principalmente no artigo “O existencialismo é o humanismo” O teólogo declara que “No contexto do artigo o ateísmo aparece como condição essencial para o existencialismo”.
Ao perguntar a Isaias e Paula este pensamento filosófico não condiz com a forma que encaram o ateísmo, dão menos importância à religião e a existência de um deus. Normalmente preferem não discutir questões religiosas com pessoas que possuem uma religião ou acreditem em divindades.
“Não é possível discutir sobre ateísmo com um teísta, pelo fato de que tudo esbarra na fé e em coisas que não possuem lógica ou razão”, afirma Isaías. Que também coloca a condição de que o ateísmo não se propaga como uma bandeira, filosofia de vida ou religião, e sim apenas a não existência de uma divindade suprema.
Paula ao ser questionada sobre o ateísmo ser um filosofia de vida se mostra muito sucinta “Não encaro minha condição de atéia como uma filosofia de vida, apenas não acredito em crenças e deuses”. Sobre discutir religião também é objetiva “Religião não se discuti, nestes casos não faz sentido, pessoas que possuem pensamentos tão distintos como fé e lógica chegarem a uma conclusão”.
Isto talvez explique o porquê do ateísmo não possuir uma sede ou organização onde são colocadas normas para uma pessoa se tornar atéia, ou viva em seu dia-a-dia uma doutrina ateísta.
O que pode ser encontrado são fóruns na internet discutindo sobre idéias de cada um, onde normalmente os ateus procuram conhecer melhor uns aos outros.
A divulgação das idéias ateístas é um dos principais fatores para o aumento da quantidade de ateus e para Isaías “O ateísmo, como não é uma filosofia de vida, não tem como objetivo combater a religião. Deve-se combater, e isto não é privilégio dos ateus, o obscurantismo religioso, a ignorância que leva as pessoas a cometerem atos insanos em nome da religião ou em nome de um deus” para que isto ocorra, à divulgação das idéias pode ser útil a partir do momento em que não for colocada em questão a existência ou não de divindades.


Ateísmo e Religião

Diversas batalhas já foram travadas, sejam elas filosóficas ou físicas entre o ateísmo e a religião, e estas ainda vêm acontecendo. Em alguns casos, tragédias são registradas por pessoas acharem que sua religião ou fé foram ofendidas por outras. Um destes episódios foi uma sátira realizada com 12 caricaturas de Maomé divulgadas em um jornal da Dinamarca. Os cartunistas dinamarqueses foram ameaçados de morte pela comunidade islâmica, trazendo consigo muitas manifestações contra o jornal que publicou as caricaturas.
Para Isaías estas atitudes são barbaridades, coisas que poderiam não acontecer, mas entende isto como um processo de evolução “As guerras religiosas são parte da ignorância do homem. O homem por si só é apenas isto que vemos mais animal do que ser pensante, não é o anjo decaído, mas sim o animal evoluído e ainda não concluído que está em continuo processo de evolução. A existência de deus é um erro da humanidade poderia não ter ocorrido, mas aconteceu”.
A existência de deuses e divindades pode ser datada a partir do surgimento de mitos, que são explicações para a realidade que aquela sociedade se encontra, estas explicações não possuem nenhum embasamento teórico ou cientifico que comprovem suas afirmações.
As primeiras religiões são as que hoje conhecemos como mitologia, conjuntos de mitos que explicam a cultura da sociedade, as religiões que hoje permanecem em nossas culturas também são baseadas em mitos e figuras de linguagem da época em que foi idealizada ou escrita.
A questão da existência de deuses ou entidades divinas já perdura há séculos na humanidade se são verdades ou não, cabe a cada um chegar a uma conclusão, ou permanecerem como agnósticos, pessoas que nem acreditam e nem desacreditam na existência de Deus. Enquanto a sociedade decide suas opções religiosas, esperemos que ateus e religiosos de diferentes filosofias e etnias consigam manter um diálogo amigável e que as definições e os preconceitos contra ateus se desfaçam com o tempo e que as pessoas não sejam julgadas por sua religião ou a falta de uma.

Preconceito na história

A Inquisição, um dos atos mais sangrentos da Igreja Católica mostra que o preconceito religioso faz parte da história

Pessoas consideradas hereges, bruxos, ou que duvidavam da verdadeira fé pregada pela Igreja Católica, foram perseguidos pela Inquisição. Estes infiéis eram curandeiros, pequenos comerciantes e até mesmo católicos que excediam as regras da doutrina imposta pela Igreja.
A Inquisição foi um movimento que começou no sul da França contra os Cátaros, religiosos que reconheciam Jesus como um grande profeta, mas não filho de Deus, logo se tornou um movimento da Igreja Católica através do Papa Gregório IX, contra os infiéis a Inquisição teve grande poder na Espanha e também em Portugal.
No Brasil a Inquisição também foi realizada “Existia uma busca do diabo no Brasil colonial”, afirma José Paulo Germano, doutor em história pela USP.
Neste período no Brasil não havia pessoas que poderiam ser responsáveis pelo julgamento dos acusados, por este motivo padres e religiosos do alto Clero da Espanha e de Portugal vinham ao país “Estes inquisidores, já vinham com os instrumentos de tortura e questionamentos prontos de seu país de origem”, afirma Germano.
A punição normalmente era a pena de morte realizada através do fogo, o ato de queimar o acusado tem duas explicações. “Nesta época existia uma grande crença na mistificação e se acreditava que o fogo era o único capaz de acabar com esta impuridade do condenado”, diz Germano, outro fator importante é a não interferência direta do homem na morte do individuo, uma forma de punição que a Igreja encontrou como purificação.Hoje a Igreja sente por estes atos realizados, o Papa João Paulo II em 2000 pediu desculpas ao povo em nome da Igreja pela Inquisição através de uma carta. Estima-se que 25 mil pessoas foram mortas neste período, o que é um número relevante para época, que contava com uma população aproximada de 16 milhões de pessoas.

19 de abril de 2008

Educação: Eles querem uma pra viver

Aqui eles tiram as máscaras que lhe foram atribuídas: Adolescentes da periferia, falam sobre suas obrigações diárias, interação com o mundo, anseios, o gosto por cultura e principalmente que são feitos de sonhos como qualquer um de nós, tanto quanto são feitos de ossos
Por Anelize Gabriela


Rua das Lágrimas altura do número 2000, ponto de referência “Supermercado da Praça”, este foi o meu destino no feriado do dia 22 de Março, Sexta-feira da Paixão. O objetivo? Encontrar com as vozes rotuladas pela sociedade como “marginais” ou “coniventes com o crime”, por simplesmente morar em uma comunidade chamada Heliópolis, considerada a maior favela da capital paulistana e a segunda maior do Brasil.
São nestas áreas mais pobres que se concentram 31,4% dos paulistanos, dos quais 8,9% são jovens, de acordo com a pesquisa realizada em 2005, pela Fundação Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados).
Heliópolis está localizada na região sul de São Paulo onde vivem 125 mil pessoas, sendo que 52% deles têm de 0 a 25 anos. Abandono em casa um olhar viciado sobre a vida nas comunidades da periferia para adotar novos olhos, livres de pré-conceitos e são através deles que apresentarei dois nomes que refletirão o que pensam e como vivem os adolescentes desta comunidade.
Estes nomes são: Regis Foge Jacinto, 18, moreno, alto, magro, com um boné branco de lado, uma camiseta com todos os rostos rappers que mais gosta, sempre com um sorriso no rosto, embora muito tímido e sucinto em suas respostas. E Bruno Correia Milani, 17, alto, branco, calças largas, aparentemente mais tímido, mas foi só dar uma brecha que ele foi logo falando o que pensa, os dois são tão inseparáveis que não ouso contar suas histórias individualmente nesta reportagem.
Regis e Bruno têm uma rotina bastante comum: Acordam, vão para um projeto social e depois do almoço vão para escola. Devido à falta de dinheiro andam 1 hora e meia a pé, até o Sesc Ipiranga para praticar natação, musculação e basquete.
O basquete está presente nos sonhos dos dois meninos, pois Bruno quer ser jogador e Regis professor de educação física, por conta da paixão pelo esporte.
Regis mora com a mãe diarista e o pai que trabalha como segurança de uma universidade, já Bruno mora somente com a mãe, pois seus pais são divorciados ela recebe pensão alimentícia, mas faz doces por encomenda para complementar a renda familiar.
Os meninos não gostam de balada nem de funk, dizem que este gênero musical é “modinha”, apenas para ter fama e dinheiro; não fumam, não bebem, gostam da internet como uma ferramenta de pesquisa, Bruno dá um exemplo: “Todo mundo falava sobre células - tronco e eu não sabia o que era e logo fui atrás de um site de notícias para saber melhor sobre o assunto”, Regis também utiliza a internet para se manter informado e fazer bases de rap.
Aliás, se tem algo que estes dois adoram é a ideologia hip hop e as músicas de rap.O por que? Regis faz questão de responder pelos dois, “Gostamos de rap por conta das mensagens das músicas, que são positivas, falam sobre a nossa realidade e o preconceito que os músicos sofrem por serem negros e pertencerem à periferia”.
Bruno conta que este preconceito está dentro de sua própria casa “Minha mãe não se acostuma em morar aqui, diz para eu tomar cuidado, pois todos aqui são marginais. Ela tem medo que eu me envolva com o crime, o crime existe, mas não são todos que participam, a maior parte das pessoas que eu conheço não”.
Quando pergunto sobre suas relações com os estudos, recebo a seguinte resposta, “Não é certo quando dizem que por morarmos na periferia, não gostamos de estudar. A gente gosta, mas o que adianta se o ensino é ruim e quando reclamamos, o governo só troca os professores por outros 20 que também não estão nem um pouco interessados em ensinar”.
São poucas as oportunidades para os adolescentes que moram em periferias. Devido à falta de renda para profissionalização, investimento em educação, exposição aos efeitos da criminalidade, eles conseqüentemente prevêem um futuro que encontrarão dificuldades para ingressar em uma universidade e se inserir no mercado de trabalho.
Segundo a pesquisa de Vulnerabilidade Juvenil da Fundação Seade, nas áreas ricas, 75,7% dos jovens freqüentam o ensino médio, enquanto nas áreas menos favorecidas eles representam 62,5%. No que diz respeito à evasão escolar, 14,9% dos jovens que residem em áreas mais pobres abandonam a escola, enquanto nas áreas ricas o índice é de 7,6%.


Em meio de toda dificuldade sempre há uma oportunidade


Regis e Bruno participam do projeto chamado “Agente Jovem” promovido pela Ong UNAS (União de Núcleos, Associações e Sociedades dos Moradores de Heliópolis e São João Clímaco), em parceria com o Governo Federal.
A instituição conta com 150 adolescentes e 4 educadores, além de obter formação humana e sócio-cultural, esses jovens recebem uma bolsa auxilio de R$65,00 por mês.
O projeto proporciona oficinas educativas com temáticas sobre meio ambiente, saúde, cidadania, customização de desenhos e roupas, além de atividades culturais e artísticas, como teatro e música. As aulas do projeto “Agente Jovem” acontecem de forma dinâmica e os temas são abordados em forma de debates.
As cadeiras são colocadas em circulo, isto demonstra que todos são iguais e têm o direito a palavra, os professores se igualam aos jovens para que ocorra a troca de conhecimento. Bruno e Regis fazem questão de falar “Se as aulas da escola fossem da mesma maneira que acontecem aqui, com debates e atividades culturais, a gente ia até mais animado para a escola estudar”.
O projeto é divido em duas fases, seis meses de teoria e após este período mais seis meses de prática, onde os adolescentes agem como multiplicadores de ações disseminando na comunidade o que aprenderam dentro de sala: a vontade de transformar realidade que vivem.
Há diversos projetos sociais que tem o objetivo de levar até os jovens, conhecimento e qualificação profissional, possibilitando que eles tenham sua primeira oportunidade de emprego, geração de renda, e também faz com que reflitam sobre o mundo que vivem.
“Procuramos o projeto inicialmente por causa da bolsa mensal e principalmente por que não tínhamos o que fazer de manhã. Então nos inscrevemos e agora já estamos a mais de um ano no projeto que traz conhecimento e cultura para nossa realidade”.
“Jovem aprendiz” é outro projeto que tem o mesmo intuito, oferecer profissionalização a jovens carentes de 14 a 24 anos. Para poder participar do projeto é necessário não ter experiência no mercado de trabalho e ter renda familiar de até 2/3 do salário mínimo por pessoa.
Claudia Lucia dos Santos, 39, é assistente social da prefeitura de Embu das Artes há dois anos diz, “O perfil dos jovens que nos procuram, são aqueles mais interessados em fazer cursos para ter uma oportunidade de inserção no mercado de trabalho”.
Pois é meu caro leitor, aqui você conheceu uma parcela da visão que os adolescentes das comunidades periféricas têm sobre a sua própria realidade, como foi mostrado pelos meninos de Heliópolis.
A criminalidade existe no cotidiano destes jovens, mas até onde uma condição precária de vida interfere decisivamente na formação de um individuo e em suas relações com a sociedade?Até onde uma sociedade que se considera tão evoluída vai encarar diferenças sociais como conceitos generalistas de que todos que moram na periferia têm como opção de vida somente a criminalidade?
A declaração de Bruno quebra esses paradigmas de que a maioria dos moradores de periferia são peças integrantes do crime “Entrar para criminalidade apenas é uma opção de vida dentre diversas que temos. Morar em uma comunidade de baixa renda, não é justificativa para traficar ou praticar roubos. Uma vez que alguém decide tomar este caminho fica difícil sair desta vida, por isso não estendemos porquê alguns de nossos colegas optam por se sustentar ou comprar aquilo que se deseja desta forma”.Quer saber “Somos um exemplo disso, somos felizes com o que temos e se eu tivesse mais dinheiro minha vida ia melhorar por que eu poderia, por exemplo, comer alguma coisa que tenho vontade, mais um isto me faria mais feliz, por que feliz nós já somos”.


Uma andorinha faz educação...

Esta andorinha é Flavia, que quando adolescente percebeu que através do seu esforço podia trazer mais educação periferia

Com uma camiseta laranja e bermuda cinza, foi assim que Flavia
Gomes de Assis 27 se descreveu como estaria vestida para que eu a identificasse em frente ao supermercado. Foi Flavia que me levou até a comunidade e ao universo dos adolescentes Regis e Bruno.
Ela é coordenadora do projeto “Agente Jovem”, trabalha há 8 anos envolvida com projetos sociais e há 7 anos junto aos adolescentes e a UNAS.
A sua primeira experiência foi através da música. “Desde criança meu pai sempre me incentivou com a música. Eu sempre fazia algumas percussões em casa e foi com 19 anos que fui convidada para auxiliar os professores da ‘Creche da Mina’ aqui na comunidade mesmo”. Flavia desenvolveu um trabalho com a pré-escola e despertou, através da música, o interesse dos alunos em aprender, adaptando-os ao ambiente escolar.
As músicas englobavam o conteúdo das aulas, cantigas infantis, como “Atirei o pau no gato” e “Terezinha de Jesus” essas canções faziam com que as crianças se acalmassem e prestassem a atenção nas aulas.
O que lhe impulsionou a trabalhar com os projetos sociais foram as condições precárias de sua infância. “Somos uma família de seis filhos e sempre passamos por dificuldades financeiras em casa, me lembro de quando eu era criança eu e meu irmão de 10 anos íamos até a feira por que meu irmão tinha vontade de comer frutas e não tínhamos dinheiro para comprar, então dia de feira, era dia de deixar a vergonha de lado e ir pedir frutas, morria de vergonha, mas fazia isto pelo meu irmão”.
Uma fala de seu irmão que só de lembrar a faz chorar: “Vamos fechar os olhos e a gente imagina que estamos comendo aquele lanche que está passando na TV, só assim a gente vai poder matar a nossa vontade”.
Foi prestando atenção na sua comunidade e convivendo com os meninos dos projetos sociais que Flavia reconheceu que sua vida não era tão difícil quanto imaginava e podia fazer algo para ajudar a mudar a sua própria realidade.
Após o seu trabalho com crianças percebeu que sua vocação não era bem para música e sim como educadora e foi convidada para participar dos projetos com adolescentes na UNAS: “Adolescentes não querem que você seja melhor do que eles, só consegui ter acesso a eles, literalmente ‘trocando idéia’. Os conquistei pela emoção, por aquilo que identifico que os machuca e assim encontrei uma brecha para ajudá-los”.
“Cabeça vazia é oficina do diabo”, este era um dos pensamentos de Flavia quando andava pela comunidade e via as crianças e adolescentes sem ter uma ocupação, ela se sentiu motivada a fazer algo para transformar este cenário, trazendo cursos profissionalizantes e cultura para Heliópolis.
Flavia critica a metologia de ensino atual e diz: “Na escola estes adolescentes não são apresentados para cultura, por isso algumas pessoas tem a idéia de que jovem da periferia não gosta de cultura e informação, mas como alguém vai gostar de alguma coisa da qual não conhece?”
Ela também reforça que os professores deveriam ajudar na formação do ser humano e não simplesmente fazer o seu trabalho sem se preocupar com a vida de cada um de seus alunos.“Os professores como não conhecem as dificuldades que os meninos enfrentam, muitas vezes falam para eles irem embora para casa calçar um tênis, pois vão a escola de chinelo, sem entender que eles não tem condições de comprar um”.
Flavia ainda era adolescente quando se encheu de coragem, que significa agir com coração, para ajudar o próximo. A sua felicidade hoje é sempre contribuir para ter um mundo melhor e ver seu sonho realizado: depois de cinco anos de espera, Flavia é uma futura pedagoga.


Uma contribuição da minha amiga, aspirante à jornalista!

Contra a maré




Os Franciscanos são religiosos que escolheram não acumular bens, viver da mendicância e manter um contato maior com moradores de rua. Ao contrário do que prega a sociedade fazem da pobreza, uma opção de vida.

Por Michele Carvalho.

Bem na esquina da Rua Plácido de Castro na Vila Invernada, onde as donas de casa retornam da feira carregadas de sacolas e onde as crianças correm a pé ou de bicicleta, encontro uma casa que logo de cara mostra por que está lá. Ao ver franciscaninhos pintados na parede principal da casa, percebo ter chegado à Toca de Assis, Bom Samaritano.
Toca de Assis é o nome dado a fraternidade que tem como objetivo acolher e viver como os pobres, são casas onde vivem os Franciscanos, quando não estão nas ruas, e é também onde os moradores de rua encontram um lugar para fazerem suas refeições diárias, tomar banho, cortar o cabelo e fazer a barba.
Bom Samaritano é o nome de uma dessas casas e, quando me aproximo do portão vejo uma garagem com algumas telhas encostadas no lado direito da parede, alguns bancos e ao centro uma mesa comprida. Ao entrar, preciso aguardar alguns minutos na garagem enquanto as irmãs estão em oração.
Nesta garagem, alguns homens dormem encostados nessa mesma mesa ou na parede, imunes ao canto do pássaro preso na gaiola e aos comentários de outros homens que assistem à televisão, interessados na reportagem sobre o Brasil da década de 60. Um deles bem mais curioso, o que abriu o portão e avisou as irmãs de minha presença, não tira os olhos da tela e também participa da reportagem com suas lembranças.
Esses homens são moradores de rua, que além de satisfazer as necessidades básicas também participam de orações. As irmãs explicam que no começo a maioria deles procura a casa somente pela comida, mas com o passar do tempo alguns se interessam também pelas orações.


O momento da renúncia

Quando entro na casa encontro um grupo de jovens meninas, todas com suas vestes marrons e cabelos curtos, tão ocupadas com os afazeres rotineiros da casa que algumas nem se incomodam muito com a minha presença. Sento ao lado da mesa, onde ainda está posto o café-da-manhã, Cibelle Lopes Lucas, uma das moças que moram na casa senta ao meu lado e então começamos nossa conversa.
Ela entrou para a fraternidade com 22 anos e hoje com 25, fala com um visível conhecimento das regras e fundamentos da vida religiosa. O primeiro sinal de sua vocação surgiu quando ela participou de um retiro espiritual na cidade mineira de Governador Valadares, depois disso ela se viu cada vez mais envolvida com trabalhos sociais até que chegou um momento em que sentiu que não fazia o bastante, “o coração pede mais, o que você faz é pouco”.
Impulsionada por essa necessidade de fazer mais pelos moradores de rua, Cibelle não encontrou outro conforto, a não ser desistir dos seus planos de fazer uma pós-graduação para entrar na Fraternidade Filhos e Filhas da pobreza iniciando sua vida de renuncias.
Quem a vê com as vestes peculiares dos religiosos, sem nenhuma maquiagem nem acessórios de beleza, não imagina que é formada em Ciências da Computação, nunca antes pensou em ser freira e nem reparava nos mendigos de sua cidade. Mas confessa que o começo foi difícil, não conseguia nem ao menos estender a mão aos pedintes, mas a convivência ajudou muito e hoje abraça a todos que encontra nas ruas.
A notícia do seu ingresso na Toca não foi bem recebida por seus pais, pois sua irmã já fazia parte da Fraternidade. Seu pai investiu em seus estudos e depositou nela todas as esperanças de ter uma filha formada. Quando questionada por sua família qual o sentido de gastar tanto dinheiro para depois abandonar tudo, chorou muito e não compreendia a atitude de seus familiares.
Ainda hoje, quando se trata de família, a vida de consagração total a Jesus se torna menos compreensível ainda aos olhos da sociedade. Os religiosos e religiosas não falam muito com seus familiares e esse pouco contato é feito uma vez por mês pelo telefone. Eles também podem receber a visita da família na Toca e tiram férias de sete dias por ano.
Cibelle diz que a saudade aperta, pois são seres humanos e não estão livres de sentimentos, mas o amor que os impulsionam a levar essa vida é inexplicável e sobrenatural, “essa vida é humanamente impossível”.


A vida na Toca

As quinze irmãs dividem a casa Bom Samaritano, com o espaço reservado para as coisas dos moradores de rua, ou irmãozinhos, como são chamados por elas. Eles têm sabonete, xampu e outros acessórios de higiene, tudo bem separado em potes de plástico com seus respectivos nomes, pois as irmãs têm um controle de quem freqüenta a casa todos os dias.
A casa e todo o restante são doados, as irmãs e os pedintes dependem dos benfeitores para sobreviverem. Existem também, algumas pessoas que não se consagraram totalmente à vida religiosa, mas auxiliam a casa e seus freqüentadores.
Os moradores de rua são recebidos na casa na parte da manhã para o café e depois voltam para o banho e o almoço. Todos já se conhecem e também às irmãs, conversam e contam suas histórias. Depois do atendimento dentro da casa, é hora das irmãs saírem para a rua e ir ao encontro dos que não vão até elas.
Esse trabalho é chamado de “Pastoral de Rua” é realizado de sábado a quarta-feira, pois as quintas e sextas-feiras são reservadas para as orações. Elas carregam uma caixinha com os primeiros socorros e vagam sem rumo, até encontrar alguém que precise de seus cuidados.
As pessoas que elas encontram têm as unhas e cabelos cortados, a barba feita, ferimentos tratados e alguém para conversar.
Nas ruas elas encontram todo o tipo de pessoa, algumas se surpreendem com o fato das Franciscanas se sentarem ao seu lado e as questionam porque são diferentes das outras pessoas que passam e nem notam sua presença. Outras já perderam a condição humana e não podem mais ficar nas ruas, pois já não têm saúde para viverem sozinhas. Então são levadas para as casas de acolhimento.


O convívio com os moradores de rua

Ao caminharem pelas ruas do centro de São Paulo vestidos com as marronzinhas, nome dado as suas vestes, de chinelo ou descalços conversando e cuidando dos moradores de rua, os Franciscanos são tachados de loucos. Cibelle diz que a maioria das pessoas não vê sentido em viver uma vida de pobreza e dificuldades, “compartilhamos também dos mesmos preconceitos e humilhações dos moradores de rua”.
Já com os sem teto a situação é bem diferente. Os religiosos são respeitados e bem recebidos, mas Cibelle admite que a aproximação é mais fácil pelo fato deles usarem as marronzinhas e também afirma que eles sentem muito medo e não deixam ninguém se aproximar, pois são muito maltratados nas ruas, “A Rota passa e tira tudo dos irmãos”. Ela conta as histórias que viveu na rua e fala que sua luta é para dar dignidade a essas pessoas.
Trabalhando como porteiro da Capela de Santo Antonio no Centro de São Paulo há 11 meses, José Luiz César, 48, é testemunha do trabalho dos Franciscanos. Ele fala com firmeza sobre os Franciscanos e me indica todas as Tocas da região. Em pé, na frente da Capela José Luiz conta do cuidado diário que os estes religiosos têm com os pedintes daquela região, “Eles sempre estão aqui, chegam um pouco antes da missa e logo depois de assistirem à celebração vão ao encontro dos sem teto”.


O início da Toca

Segundo a história, São Francisco de Assis foi um homem rico que começou sua conversão dando esmolas para os pobres e leprosos, até chegar um momento onde doaria suas próprias roupas. Contrariado com as atitudes do Santo, seu pai exigiu a devolução de todo seu dinheiro doado em forma de esmolas.
Em sinal de protesto e renúncia, São Francisco despiu-se em praça pública abrindo mão da herança de sua família para viver com os pobres e leprosos de sua época.
Assim como São Francisco, os religiosos de nossa época, inspirados nesse amor a Jesus Cristo e aos mais necessitados também fazem votos de obediência, pobreza e castidade e seguem esse caminho trilhado há mais de oitocentos anos.
Entre esses seguidores está o padre Roberto José Lettieri, o fundador da Toca de Assis. Quando ainda era um seminarista, ele saia todas as noites para conversar e ajudar as pessoas que viviam nas ruas da cidade de Campinas, com o tempo essa prática foi ganhando mais adeptos e em 1994 surge a primeira Toca. Hoje ela existe em quase todos os estados brasileiros, saciando essa ânsia de viver o carisma do Santo de Assis.



Entre judeus e franciscanos

Mesmo dentro de sua casa os franciscanos encontram dificuldades em realizar suas boas ações


Existe também outro tipo de Toca, são as casas de acolhimento. Diferente da Casa Bom Samaritano, esses lugares abrigam as pessoas que não têm mais condições físicas nem psíquicas de viver sozinhas nas ruas, elas moram com os religiosos que cuidam da alimentação, das roupas e até levam os moradores da casa para o hospital, quando necessário.
Mas acontece que nem todo mundo aceita esse trabalho dos Franciscanos, é o caso dos vizinhos da Vila de Assis, uma Toca de acolhimento que funciona nos Campos Elíseos, região central de São Paulo. Lá os moradores que residem em volta da casa reclamam da grande movimentação de pessoas, principalmente moradores de rua.
Ao todo são 110 pessoas, acolhidas por 17 Franciscanos vivendo na casa dos Campos Elíseos, sem contar os moradores de rua que vão à casa todos os dias para fazerem suas refeições e tomar banho, pois o trabalho desses Franciscanos se estende também as pessoas que não moram na casa.
Desde a inauguração da casa, há quatro anos, os Franciscanos e os moradores da casa são alvo de processos, abaixo-assinados e reclamações da vizinhança, “existe um processo de 200 páginas”, diz o irmão Jhony Cruz da Silva, 23, um dos irmãos que atuam na casa.
Os irmãos também atribuem às reclamações ao fato da maioria dos vizinhos serem judeus, “acredito ser também uma questão religiosa”, diz o irmão Jhony ao explicar os motivos dos problemas que enfrentam com os moradores da região. O caso já chegou até os ouvidos do prefeito Gilberto Kassab, mas para a revolta de alguns, a casa continua com as portas abertas ajudando aos que precisam.

9 de março de 2008

Resquicios do passado.

Numa tarde de domingo, quando um vento toca meu rosto e me faz sentir mais viva encontro, entre a dualidade do vazio e do silêncio necessário, a imagem do verdadeiro ser humano.

Essa criatura, que a cada dia se torna mais rara, deixa escapar do coração o que já não suporta mais carregar, a triste conclusão de que nos transformamos em meros espectadores da vida. Ela advertia que a corrida para ver quem tem mais oprime o que nada tem, evocava também a tristeza e o desespero de um pai a procura da dignidade e sustento de seus filhos perdidos entre monumentos arquitetônicos que disfarçam a grande miséria de nossos corações.

As desilusões que encontro em seu olhar e o cansaço que percebo em sua face, caem por terra ao constatar a grande sabedoria que a simplicidade pode carregar. Em meio a palavras e gestos ele sintetizou o sentido da vida, afirmando que as pessoas se vendem por ilusões palpáveis e passageiras e se esquecem do grande prazer em sentir o coração palpitar e as lagrimas escorrerem num ritual de se tornar mais humano.

Acho que a cadia busco isso, mas nem sempre o sinto, como posso esquecer de sentir o cheiro das flores? De reparar nas nuvens que se formam e transformam no que eu quiser? Dos tempos de criança? Como posso esquecer da grande saudade que sinto da minha vida? Hoje já não me sinto como antes, algo aqui dentro se foi e acho defícil recuperar, não sei ao certo o que se perdeu durante o tempo que passou.

È estranho pensar que as pessoas se vão, não ficam ao nosso lado para sempre como nos contos de fadas, nem mesmo nossos pais, irmãos e tios, nem mesmo eles não cumprem a promessa que fizeram em meus sonhos de criança.

A alegria da chegada de novas pessoas se mistura com a saudade das que partiram, esperanças se renovam todos os dias, sonhos são construidos e melhorados, mas a sensação de não estar em tempo nenhum prevalece entre os mais íntimos sentimentos.

17 de fevereiro de 2008

Memorial reúne conhecimento e diversão

Conhecido por reunir manifestações artísticas, que incluem peças teatrais, shows musicais, exposições, documentários sobre a vida e carreira de grandes artistas e sintetizar toda a cultura latino-americana num único lugar, o Memorial da América Latina também se destaca por sua característica acadêmica. Em 2006 o Cbeal (Centro Brasileiro de Estudos da América Latina), que desenvolve cursos, seminários e palestras, concretizou a Cátedra do Memorial, que já estava sendo discutida desde de 2005.
Segundo Eduardo Rascov, chefe de imprensa do Memorial, a Cátedra é um projeto desenvolvido para promover o conhecimento mútuo entre os países latino-americanos. Em parceria com instituições públicas e privadas, o Memorial traz alunos de outros países que sob a orientação de um professor de renome internacional em uma área específica, desenvolvem estudos e pesquisas. Grandes questões contemporâneas e pragmáticas do continente são abordadas e discutidas e ao final de cada ano de pesquisa o resultado é publicado em forma de livro.
Mas o que realmente atrai as pessoas é a variedade de manifestações artísticas. São inúmeras apresentações de músicas e danças específicas de cada país, peças de teatro que reúnem companhias do Brasil e de outros países como a Argentina, Colômbia e Chile. Para aqueles que gostam de cinema, exibições de filmes que retratam a realidade e a singularidade de todo continente. Exposições, atrações circenses e oficinas culturais também fazem parte do cotidiano do Memorial.
Ao lado do metrô Barra Funda, na região da Lapa, o Memorial atrai um público de aproximadamente 7.000 pessoas por ano. Quem confere suas atrações tem a chance de fazer uma viagem por toda a América Latina, conhecendo melhor os costumes, a cultura e seu pensamento.
O Memorial tem um desafio, despertar o interesse do povo brasileiro por sua própria cultura e de seus vizinhos, como o próprio Eduardo declarou: “o Memorial é a esquina da América”.

30 de janeiro de 2008

A vida apresenta sua face de diversas maneiras e cada indivídou experimenta uma sensação, isso nos torna tão diferentes mas na nossa verdadeira natureza somos tão iguais. Dores, medos, alegrias e insegurança quem nunca experimentou de tantos sentimentos? Quantas vezes a esperança já não bateu e foi embora? Quem nunca se sentiu humano?
Hoje acordei meio assim, triste? Não sei se posso chamar de tristeza ou de uma inquietude de pensamentos que buscam em algum lugar alguma resposta. E se avida for mesmo assim? E se todos resolverem aceitar tudo isso? Não vejo sentido em muitas coisas, mas no que os outros não acham sentido? Será que estou realmente certa ou também alienada?
Nunca antes o mundo se mostrou desse jeito, mas pensando bem acho que nunca quis enxergá-lo realmente. Todas as máscaras cairam pude ver a base de toda essa engrenagem.
Aonde estará agora aquela fúria, aquela vontade de fazer parte desse mundo? Será que esbarrou no medo? Esse medo que me foi mostrado tão friamente, esse mesmo medo que me torna tão igual a tudo e todos. Não estou dizendo que desisto, apenas encontrei uma barreira maior que qualquer constatação, meus sentimentos.

19 de janeiro de 2008

Como me sinto pequena diante da vida, a vida que se apresenta de várias formas diante de mim. Essa vida que confude, que muitas vezes machuca, mas sem dúvida vale muito vale a pena.
Só não entendo porque tantas vezes e tantas pessoas, inclusive eu, fingem não sentir o que se passa ao redor. Não é possível que a sensibilidade tenha se tornado escassa. Me pergunto, se Deus nos concedeu tanta terra para plantar, tanta água e matéria-prima, porque tanta gente não tem o que comer? O que fizemos de errado?
O mais triste é que conheço a resposta.........................
Cada ser humano é único, mas muitas vezes fazemos disso um desculpa para vivermos apenas nossos problemas, apenas nossos pensamentos e angústias. Um dia desses percebi que, é no ônibus o melhor lugar para a reflexão. È exatamente nesse momento, quando o caos se instala do outro lado dos vidros e portas do coletivo que vemos cada um na sua forma mais verdadeira: o pensamento. Mesmo eu, quantas vezes não me perdi e tudo ao redor simplesmente não existia.
Mas ao retornar do mundo, muitas vezes lúdico, da minha mente voltam também as cenas que caracterizam a rotina de todo cidadão da metrópole. O olhar e futuro sem rumo e sem esperança de todos aqueles que estão à margem, não só da sociedade, pois acredito que esta exclui muitos outros, mas à margem da vida. Como compreender a miséria estampada no futuro? Como aceitar a vida como ela é? Me recuso a tudo isso, assumo o papel e com ele a responsabilidade de ser a "chata" da vez, não quero viver apenas a minha vida, como posso se existem tantas outras? Não tão belas, tão pouco glamurosas, mas nem por isso insignificantes e ainda ouso dizer, mais insignificante é essa vida que insistimos viver.

15 de janeiro de 2008

Mais uma manhã!

Com o passar apressado e frio pelas ruas do centro da cidade, muitas pessoas não percebem como a vida acontece. Em meio a muitas pessoas, lojas, edifícios, propagandas e todo o restante que a sociedade capitalista nos oferece, uma cena que passa desapercebida por muitas pessoas, teima em chamar minha atenção e inquietar meu coração. Tentando se proteger do frio da manhã clara, mas gelada, um garoto recebe carinho e atenção de seus companheiros, dois cachorros vira-latas. Um deles se deita para servir de travesseiro para o garoto, enquanto o outro se deita ao seu lado, como uma forma de dizer: "estou aqui." Ao mesmo tempo que essa cena me emociona, também me entristece chegamos a um ponto em que não conseguimos, diferentes dos animais, dar carinho e atenção aos nossos próprios irmãos, muito menos aos mais necessitados. O que mais me resta dizer? Algumas cenas falam por si próprias, quero apenas dividir esse sentimento que há muito me pertence.
Um instante para refletirmos.

13 de janeiro de 2008

"Das utopias"

"Se as coisas são inatingíveis... ora!

não é motivo para não quere-las...

Que tristes os caminhos, se não fora a mágica presença das estrelas!"

Mario Quintana

"Falcão", meninos do tráfico

O cantor de rap Mv Bill e o produtor Celso Athayde acompanharam de perto, por seis anos a rotina dos “ falcões”, meninos que passam as madrugadas em claro, servindo como sentinelas, vigiando a “boca” caso a polícia apareça. O documentário retrata a vida de garotos que vivem a realidade de um Brasil que muitos preferem ignorar, são verdadeiras crianças que perdem sua inocência cedo demais e aprendem o verdadeiro significado da palavra abandono. A maioria deles não têm pai, contam apenas com a figura da mãe que muitas vezes não se faz tão presente. Esses meninos encontram no traficante que os contrata, a figura de um pai, alguém que os ensina as regras de sobrevivência onde apenas o mais forte e cruel sobrevive. Muitos, porém, não sobrevivem até o fim do documentário.
Depoimentos, histórias e sonhos dessas crianças emocionam e ao mesmo tempo revoltam. São provas vivas do descaso de um país hipócrita e com valores trocados, que oferece a esses meninos uma rotina violenta a qual eles se acostumam desde criança para desespero de suas mães. Suas experiências de vida nos servem como lição, pois sentem na pele o quanto o dinheiro e o poder falam mais alto em um país que é governado apenas para os mais ricos e poderosos. Teorizam sobre o comportamento dos policiais que se beneficiam com esta situação e por isso não têm interesse de acabar com o tráfico.
O documentário mostra uma vida que não dá audiência é apenas estatística e como a ilusão toma conta dos meninos. Na televisão eles assistem à uma realidade muito diferente das suas, por isso, se encantam com roupas de marca, carros e mulheres deslumbrantes, tudo o que a nossa sociedade prega como valor. Uma bela e corajosa iniciativa, que choca aos telespectadores que ainda não se deram conta das desigualdades e injustiças que regem esse país de todos.

Mães

Há muita coisa que nunca entenderei, como a vida pode ser tão injusta e tão incerta. Um dia desses conversando com uma senhora doente, que perdeu a filha a poucos dias, percebi como as coisas nem sempre estão na ordem certa. Ela que dependia da filha para absolutamente tudo, ficou sozinha, a filha que morreu por insuficiência renal deixou um grande vazio que nunca será preenchido. Além da grande dor que uma mãe sente ao ver sua filha num caixão, também esse sentimento de revolta, de não conformismo acompanhará Dona Julinda pelo resto da vida.
Como assim enterrar um filho? Até onde sei isso é contra a lei da vida, na teoria os pais criam os filhos para o mundo enquanto assistem ao espetáculo de uma nova vida, uma nova família, um novo ser humano se formando. Mas como reagir quando esse processo é bruscamente interrompido pela morte? Acho que agora, começo a entender esse grande amor e essa preocupação incessante que acompanham todas as mães, nesse lindo e sofrido caminho que ela lapida para seus filhos.

7 de janeiro de 2008

Humano

Aonde se encontra a alma humana?
Aonde deixei meus verdadeirtos sentimentos? Meu verdadeiro eu?
Talvez inconscientemente eu procure algum sentido maior para estar vivendo esse momento, pois não sei o que ainda me mantém viva, diante de tantas coisas difíceis de compreender e suportar. As imagens se materializam, cena à cena, na minha mente, mas sem que eu espero, um ruído carregado de inocência e esperança, esperança que deposito em todas as crianças.
Talvez, seja essa a resposta que tanto procuro.

5 de janeiro de 2008

A todas as crianças vitimas do poder


Quantas vezes mais precisarei chorar, sentir tamanha dor? Quantas crianças mais serão mutiladas, enquanto assistem à morte de seus pais? Quantas mais crescerão à merce da maldade e monstruosidade de homens racionais? Quantas cenas mais despedaçarão meu coração?Não entendo esse nosso maldito conformismo que aliado ao egoísmo nos impede de enxergar a vida como ele é. Somos pobres humanos, desgraçados por condicionamento, de pequenos anjos tiramos a inocência, o direito de um abraço tranquilo e noites de paz. Queria não me incluir nesse estado deplorável em que o homem se encontra, mas como faço parte dessa vil e hipócrita raça, também tenho contribuído para esse estado. Que poder destruidor é esse que possui o dinheiro, que transforma homens em vermes que consomem a carne dos mais fracos? Enquanto nos preocupamos com a vida de uma minoria detentora de muito dinheiro e poder, e num ridículo esforço tentamos imitá-la, nossa alma apodrece, perdemos o que há de mais importante na condição humana: a sensibilidade. Nos tornamos apenas máquinas, trabalhamos desesperadamente apenas em prol do mediócre objetivo de acumular dinheiro. Depois de todos esses anos de evolução, é nesse ponto que chegamos? Somos mesmo muito hipócritas, temos a pachorra de auto-denominarmos sociedade civilizada. Uma sociedade que vive de aparências e que por debaixo de tanta maquiagem esconde uma alma vazia.Mas o que mais me machuca, é essa sensação de estar de mãos atadas, e minha insignificância diante de tanto sofrimento me remete novamente à condição de ser humano. Talvez essas palavras nunca expressarão o que sinto, minha indignação ao constatar no que realmente nos transformamos. Sofro muito por escrevê-las, sofro pelos que sentem na pele essa desvairada busca pelo poder, e sendo seres tão frágeis e inofensivos, não conseguem erguer suas vozes, no máximo sussurram pedidos de socorro
. Michele Carvalho.
A cada dia que passa me sinto cada vez mais estranha nesse lugar, ao
andar nas ruas me deparo com cenas que marcam minha vida. Não me sinto
feliz há muito sofrimento, muita injustiça e pior de tudo é que nem
sei o que fazer. Ainda que eu perceba que tenho tudo nessa vida, ela
ainda não é completa, falta uma certeza, a certeza de que nunca mais
milhares serão oprimidos, humilhados e injustiçados. Já vivi muita
coisa, mas nunca vivi por ninguém, nunca fiz ninguém se sentir humano
de novo. Sinto uma grande tristeza, quando vejo que não considero a
maioria
das pessoas seres humanos que vivem uma vida medíocre, e o mais
decepcionante é que essa mediocridade também faz parte da minha vida.
Agora, sentada em frente á essa máquina não me sinto nada, quem sabe
até outra máquina, que age sem sentimentos, apenas programada para
gerar
lucro. Que sentido posso encontrar nessa vida? Que sentido há nesse
sistema que desumaniza?
O que estou fazendo de útil aqui dentro, enquanto a vida acontece lá
fora? Enquanto há crianças ao chão sem esperança no olhar? Quanto
tempo
levarei para chegar onde quero? Por onde começar? Perguntas que não
saem
da minha cabeça, não me deixam em paz.
Não falo em respostas para todos os problemas, talvez isso soaria muito

clichê, mas penso numa felicidade mundial, mas isso também não soa
clichê? Então por que todas essas questões, que ninguém aguenta mais
nem
ouvir, ainda fazem parte do nosso cotidiano?

Consciência

Queria poder escrever sobre as soluções para os problemas que a vida nos traz, pois todos sabemos que viver é correr sempre um risco novo. O que não sabemos, é o que encontraremos ao chegarmos ao fim de tudo isso? E quando será esse fim? Será que ele existe mesmo?
Entre passos e pensamentos, tento descobrir o que torna as pessoas mais ou menos felizes. Tento buscar no brilho do olhar de cada uma delas o segredo para a felicidade: em algumas descubro a amizade, em outras a solidariedade e a preocupação mas sempre o perco no amor. Sempre essa dor, sempre a falta do amor nos deixa tão vulneráveis, tão incompreensíveis, tão calados. Não importa o tipo de amor, pois este se apresenta em várias formas, porém todas são verdadeiras e necessárias. O amor do qual o menino sente falta, ao se encontrar sozinho no meio da noite, do amor que seria a cura para todas as enfermidades que o tempo pode causar, do amor que é capaz de trazer um novo sentido à humanidade.
È sempre no olhar, que descubro todos os sentimentos, através dele sinto a dor das outras pessoas, não com a mesma intensidade, não da mesma forma, mas carrego comigo a lágrima que não rolou, o grito que não ecoou, o coração que se partiu. Só não sei se do outro lado a dor se ameniza, não sei se fica mais fácil viver, pois para mim cada dia é mais difícil. Não falo de respirar, não falo das coisas ou pessoas que não tenho, falo da minha consciência e meu coração, eles que não me deixam em paz, fazem questão de me lembrar a todo o momento a situação deplorável para a qual a humanidade caminha, inclusive eu. Será que há cobrança maior, do que a sua própria consciência?

Violinista toca a alma

Quem nunca parou e se emocionou ao ouvir uma boa música? Pois foi exatamente isso que muitas pessoas fizeram ao passar pelo metrô Clínicas, no último sábado quase véspera de Natal. Em meio a correria do final de ano, não houve ninguém que, por mais pressa que aparentasse estar, ficou indiferente ao som do violino de Rodrigo, 24 anos. Algumas pessoas passaram e timidamente observaram, outras porém se entregaram e revelaram todo o seu gosto pela música, não importa a idade, desde crianças até os mais velhos, todos pararam para observar o rapaz.
Rodrigo saiu do bairro da Saúde para levar sua arte, que parece correr no seu sangue, a todos que se interessam. Neto e filho de músico, o rapaz estuda violino há 3 anos e também toca outros instrumentos como o piano, sua paixão é pela música em geral, mas o jazz é sua grande inspiração. Ele também já tocou em orquestras e outros metrôs, que não são exatamente o centro da cultura paulista, ele diz que lá também as pessoas se interessaram por sua música e confessa que a idéia não é nova “isso já rola na Europa.”
O que mais chama a atenção é que, entre a rotina e correria do dia-a-dia e a sensação de ouvir uma boa música, muitos decidiram ficar e assistir a apresentação de Rodrigo, que expressa claramente sua emoção ao ver as pessoas gostarem do que faz. No tempo em que permaneci lá, muitas pessoas pararam, sorriram, aplaudiram e entre seus espectadores, uma família inteira se sentou e apreciou a música. De uma outra ouvinte o rapaz ganhou até um bilhetinho.