27 de julho de 2009

Pessoas de sempre


Em tardes assim, quando a chuva preenche o vazio do ar da grande metrópole e traz o delicioso cheiro da natureza, sinto que posso chegar aos céus e resgatar todas as lembranças que me trazem prazer. As estrelas, que parecem rasgar o negro céu de nossas relações e o mar que, além de acolher, encoraja sempre a ir mais fundo parecem fazer parte de mim. Viver tudo em uma só vida.
Posso sim dizer que já vivi muito. Esperanças e sonhos trocados. Quantos podem falar que já fizeram tal negócio? A verdadeira amizade nasce da certeza de nunca estar só, de poder ser você mesmo e ter fãs por causa disso. Dizer o que o coração transborda e não ser julgado. Quem sabe, apenas aconselhado?
Queridos amigos, também aos mais antigos e distantes, hoje faço uma confissão. Mesmo que o destino não me reserve grandes amores, me basta ter passado pela terra e conquistado grandes amigos. Basta-me ter sido importante e necessária. Compartilhado emoções e verdadeiros sentimentos, ser lembrada em grandes ideais e pequenas alegrias. Pois é assim que conquistamos nossa paz, combatendo essa eterna batalha, com o sonho nosso de cada dia.

As palavras


Galera,
estava vaguando entre meus pensamentos e encontrei essas palavras, que teimaram em sair da minha mente para chegarem até vocês. Elas têm a pretensão de tentar extinguir o sentimento de solidão que brota de nossas relações e atingir a cada um de nós. Relutei em sentar e escreve-las, avisei que é batalha perdida, mas como podem ver, fui vencida pelo cansaço!Elas se juntaram, palavra por palavra e avisaram, nunca deixem sua atenção perdida por ai, sempre há alguém que precise dela. O mesmo com seus abraços e carinhos, há feridas que apenas eles podem curar. O sorriso então, nem se fala, quer coisa mais contagiante?Então, assim de supetão, as palavras gritaram: não esqueça dos amigos!!! Divida tudo o que puder com eles, problemas, angústias, ouvidos, alegrias, confidências, loucuras, instantes de silêncios, lágrimas. Assim mesmo, tudo misturado, os verdadeiros amigos não se importam com nossos momentos de lucidez.Num ato desesperado, elas tentam de todas as maneiras acreditar na humanidade. Buscam na mais pura essência, um sentido para os verbos, orações e conjunções, para que dêem também sentido às páginas, que a cada dia temos a chance de escrever de um jeito diferente. Confesso que elas são assim mesmo, meio pretensiosas, se gabam de tocar os corações mais duros, de arrancarem lágrimas dos sensíveis e traduzir toda a sensibilidade de seres iluminados, eles mesmos, os poetas. Nesse ponto, concordo com elas, quem já leu Mario Quintana, sabe do que estou falando.Garanto que essas palavras têm vida própria, assim, sem pedir licença pularam, uma por uma e se jogaram nesse texto, suplicando que cada um reveja o que tem feito para curar um coração, acabar com a solidão, arrancar um sorriso ou apenas dividir dores. Pois é pessoal, elas também me pegaram de surpresa, estava eu lá, mergulhada em minhas saudades e dores e esquecendo das milhares de vidas que a cada dia perdemos, das lágrimas que não enxugamos, do desabafo que não ouvimos, do desespero que não acalmamos e das palavras que não dizemos..

22 de julho de 2009

O oposto

É impressionante como a margem oposta da vida me seduz. A plena liberdade de ser e a eterna escolha de viver. A cada dia a vida mostra uma face diferente, todas tão encantadoras, que é quase impossível resistir aos caminhos opostos.
Alguns rostos, que encaro nas ruas, carregam em si uma serenidade e uma simplicidade envolventes, o vento e o cheiro do despojamento saciam meu ser, aguçam a vontade de me desprender e renovam minha essência. O andar lento e contemplativo faz os dias mais azuis e as pessoas mais humanas.
Ao contrário da visão convencional, as diferentes criaturas que povoam belos lugares, eternizados pela imaginação, alegram as batidas de um coração solitário. Cenas e palavras giram num círculo sem fim, se transformam em mantras que buscam paz e liberdade para a alma.
O próximo é mais do que mais um, é a fortaleza que nos sustenta, o mar que nos acalma, as estrelas que nos inebriam. É a mais pura expressão da natureza. Compartilhado com a solidão, nada vale a pena. São humanos os sentimentos, sonhos e desejos, por que não vivê-los?
Nada é inalcançável, tudo é permitido, o diferente é bem vindo. Os pensamentos solitários são convidados a existir e coexistir com outros, para enfim se materializarem. Que belas palavras nos reservam a alma humana? Como anseio por esse momento. Definitivamente vivo da utopia, enquanto respiro ares de uma outra realidade.

Ser Mineiro




Ser Mineiro é não dizer
o que faz, nem o que vai fazer,
é fingir que não sabe
aquilo que sabe
é falar pouco e escutar muito
é passar por bobo
e ser inteligente
é vender queijos
e possuir bancos.
Um bom Mineiro
não laça boi com imbira,
não dá rasteira no vento,
não pisa no escuro,
não anda no molhado,
não estica conversa com estranhos,
só acredita na fumaça
quando vê fogo,
só arrisca quando tem certeza,
não troca um pássaro na mão
por dois voando.
Ser Mineiro é dizer "uai",
é ser diferente,
é ter marca registada,
é ter história.
Ser Mineiro é ter
simplicidade e pureza,
humildade e modéstia,
coragem e bravura,
fidalguia e elegância.
Ser Mineiro é ver o nascer do sol
e o brilhar da lua,
é ouvir o cantar dos pássaros
e o mugir do gado,
é sentir o despertar do tempo
e o amanhecer da vida.
Ser Mineiro é ser
religioso e conservador,
é cultivar as letras e as artes,
é ser poeta e literato,
é gostar de política,
é amar a liberdade,
é viver nas montanhas,
é ter a vida interior,
é ser gente

Autor desconhecido

15 de julho de 2009

O que fazer com as cenas que não são feitas à imagem e semelhança de Deus? Como concertar as imperfeições que deixamos pelo caminho, reparar injustiças que um dia aceitamos e amar as diferenças que não compreendemos?
Concluo, que são essas inquietações que não me deixam parar. Um dia desses, uma cena fez com que emergisse de meus solitários pensamentos: Duas mãos, uma delicada e ao mesmo tempo decidida, que apertava uma outra, pequena e indefesa. A primeira era de uma mãe, que num simples gesto denunciava todo o seu amor, a segunda era do filho, que crescerá com a certeza desse sentimento.
Foi impossível conter a lágrima que escorria e trazia consigo um eterno acreditar no amor. Bastou um pequeno gesto para entender a grandiosidade que há dentro de cada pessoa, apenas observando encontrei respostas e mais um motivo para continuar. É esse amor, que deveria ser a peça fundamental para mover a engrenagem e é sentindo que se vive.
Vida á qual todos tem direito, não importa se desse, ou do outro lado do mundo. Quando compreendidas todas as diferenças são belas. A cor da pele, a crença num ser maior, os sonhos e costumes. Mas muitas vezes, não enxergamos a única semelhança, que nos conduz a condição de ser humano: o desejo de alcançar a felicidade.
Poetas, autores e compositores anunciam em suas belas inspirações, essa ânsia por algo muito maior, não há como negar somos feitos para amar. Então por que tanta resistência? Até quando a intolerância guiará nossos atos? Quando deixaremos de ouvir a voz do poder, para escutarmos o choro de milhares de mães, que perdem seus filhos?

11 de julho de 2009

" A absoluta simplicidade e despojamento da vida que o homem levava nos tempos primitivos tinham pelo menos a vantagem de deixá-lo ser hóspede da natureza. Quando se sentia retemperado pelo alimento ou pelo sono, tinha a estrada novamente diante de si. Morava neste mundo como se fosse numa tenda e estava sempre palmilhando vales, cruzando planícies, galgando cumes de montanhas. Mas vejam só! Os homens se transformaram nos instrumentos dos seus instrumentos. Aquele que ma maior liberdade apanhava os frutos nas árvores quando sentia fome, tornou-se agricultor; o que se deixava ficar debaixo de uma árvore por abrigo, virou caseiro. Não mais acampamos por uma noite, mas nos instalamos na terra esquecidos do céu"

Henry Thoreau

8 de julho de 2009

Talese e suas pessoas

Observar a grama de um estádio de futebol e lembrar do responsável por mantê-la sempre bonita. Ir a uma luta de boxe e não prestar atenção nos lutadores e sim no juiz. Como entender essa sensibilidade que aflora dos textos de Gay Talese? Essa capacidade de desviar o olhar para a imensidão do céu e reconhecer cada estrela? Quem me responde é o próprio Talese. “Eu me interesso por pessoas, estou disposto a dedicar meu tempo a elas”.
Em entrevista, quase palestra, realizada no MASP (Museu de Artes de São Paulo) o percussor do chamado New Journalism falou de pessoas, sem as quais jamais teria tantas histórias para contar. Ao longo de mais de 50 anos de profissão, Talese transformou vidas em poesia. Mais que observadores, seus personagens fazem História.
O jornalista também falou de seus colegas de profissão, de maneira incisiva criticou a falta de compromisso com a verdade e o pouco envolvimento da imprensa com suas pautas e fontes. Mas Talese afirma, que sua fé no bom jornalismo continua intacta.
O que também continua igual é o estilo de vida do escritor, ele caminha pelas ruas do bairro onde mora, não usa internet e não tem celular. Conversa com todo mundo que chama sua atenção, seja um pedinte ou alguém que esteja numa fila de liquidação. Diria, que é um jornalista a moda antiga, daqueles que vivem o romantismo e cumprem o papel transformador da profissão.

6 de julho de 2009

"Mais que amor, dinheiro e fama, dai-me a verdade. Sentei-me a uma mesa em que a comida era fina, os vinhos abundantes e ol serviço impecável, mas faltavam sinceridade e verdade e fui-me embora do recinto inóspito, sentindo fome. A hospitalidade era fria como os sorvetes."
Henry David Thoreau
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3 de julho de 2009

Arte e Histórias

Os artesãos contam um pouco da história de suas vidas e da praça, além de falarem dos problemas que acompanham a feira desde o seu início

Peças de madeira, metal, couro. Artigos japoneses, indianos, africanos. Roupas de lã e barbante, imagens de santos em madeira, incensos, pedras e instrumentos musicais. Todo final de semana é a mesma coisa, alguns artesãos mostram um pouco de sua imaginação, através das mais diferentes formas de arte, na feira de Artesanato da Praça da República.
Um deles é Nilton Cardoso, que faz do lixo, sua principal matéria prima. Nas mãos do artesão lixeiro, espelhos quebrados formam mosaicos, que dão origem à notas musicais, sois e luas. Pequenas caixas de madeira ganham adereços um tanto quanto diferentes como, pregos e clipes enferrujados. Sua banca, mais parece um antiquário, pois o lixo dá às peças, um ar antigo.
Ele expõe na praça, há quatro anos e já tem um público que conhece e admira seus artigos, mas, seus fiéis compradores são os estrangeiros. “Os europeus gostam muito do trabalho de reciclagem. Eles não se importam com o preço”, diz o artesão. Todo o material utilizado pelo artista provém de doações de pessoas, que já conhecem seu trabalho.
Nilton também fala das dificuldades enfrentadas pelos artesãos, como por exemplo, as obras do metrô e a falta de segurança. “Depois do início das obras, o número de turistas diminui. Também houve uma fuga de alguns expositores”.
O artesão Antonio Marcio Gusmão também compartilha da mesma opinião. Para ele, a feira hoje, está descaracterizada, perdeu um pouco da essência inicial. “As bancas estão todas amontoadas, não temos espaço para mostrar nosso trabalho, além de ter muitos produtos industrializados”. Ele também cita o descaso por parte da prefeitura, como outro grande problema do local.
Antonio trabalha com pedras e minérios e praticamente viu a feira nascer. Há 42 anos veio com a família de Vitória da Conquista, no interior da Bahia e já, naquela época, acompanhava o pai na feira. Hoje, é ele quem fala com propriedade das pedras e suas características. “As pedras são extraídas dos
Estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia e até mesmo de São Paulo. Os minérios estão presentes em todo lugar”. Ele também diz, que seus produtos se caracterizam como artigo para colecionadores ou para estudos, para uma classe mais seleta.
Já, os pontos de crochê, que nas mãos da artesã Benedita Lurdes Silva, se transformam em toucas, boinas e bolsas, agradam a muita gente. Sentada atrás de sua banca, com as mãos ocupadas em mais uma de suas criações, ela declara a paixão pela feira e pelo trabalho com as lãs. “Eu amo isso aqui, é minha vida”.

Os percalços e dificuldades
Mas esta paixão de Benedita, já esteve ameaçada por diversas vezes. Ela fala, que para garantir o direito ao trabalho, já participou de inúmeras passeatas e reuniões com a ex-prefeita da cidade, Marta Suplicy. Tudo isso, por que em 1991, o prefeito Celso Pitta, proibiu os artesãos de exporem na República, e a única alternativa, foi montar uma feira paralela, do outro lado da praça.
Desde o começo, a feira sempre esteve sob o risco de extinção, não havia um órgão responsável pela administração e organização das barracas, eram os próprios trabalhadores que tentavam se organizar. Hoje, é a prefeitura quem cuida da admissão de novos artistas, que precisam provar que são os responsáveis pela criação das peças, assim dificulta a venda de produtos industrializados.
Outra questão que é concesso entre os artistas é a segurança. Com o crescimento desenfreado e não planejado da cidade, aumentou também o número de excluídos que habitam os arredores da praça. Para tentar resolver esse problema, eles contrataram uma empresa particular, que garante a segurança do local, enquanto a feira acontece.

Cinqüenta anos atrás
Muitas foram as contribuições para a formação da feira como a conhecemos hoje. Tudo começou, lá pelos meados dos anos 50. Um grupo de filatelistas, pessoas que colecionam selos e moedas, se encontrava na praça da República, para trocar informações e artigos.
Enquanto isso começa a surgir, nos Estados Unidos, o movimento hippie. Os jovens daquela época resolveram abandonar casa e família e formar saciedades alternativas, em protesto contra a guerra do Vietnã. Mais tarde, esta ideologia de paz e amor se espalharia pelo resto do mundo.
Na praça da República, essa expressão se deu através da arte e foram os bichos grilos, que abriram espaço para os mais de 560 artesãos, que hoje, compõem a feira. O artesão Cosme da Silva Ferreira é um dos seguidores dessa ideologia. Ele se considera um hippie, pois na juventude, também abandonou a família para protestar contra a guerra e viver da sua arte. “Os hippies nasceram para protestar, nós somos contra a guerra”, diz Cosme.