3 de julho de 2009

Arte e Histórias

Os artesãos contam um pouco da história de suas vidas e da praça, além de falarem dos problemas que acompanham a feira desde o seu início

Peças de madeira, metal, couro. Artigos japoneses, indianos, africanos. Roupas de lã e barbante, imagens de santos em madeira, incensos, pedras e instrumentos musicais. Todo final de semana é a mesma coisa, alguns artesãos mostram um pouco de sua imaginação, através das mais diferentes formas de arte, na feira de Artesanato da Praça da República.
Um deles é Nilton Cardoso, que faz do lixo, sua principal matéria prima. Nas mãos do artesão lixeiro, espelhos quebrados formam mosaicos, que dão origem à notas musicais, sois e luas. Pequenas caixas de madeira ganham adereços um tanto quanto diferentes como, pregos e clipes enferrujados. Sua banca, mais parece um antiquário, pois o lixo dá às peças, um ar antigo.
Ele expõe na praça, há quatro anos e já tem um público que conhece e admira seus artigos, mas, seus fiéis compradores são os estrangeiros. “Os europeus gostam muito do trabalho de reciclagem. Eles não se importam com o preço”, diz o artesão. Todo o material utilizado pelo artista provém de doações de pessoas, que já conhecem seu trabalho.
Nilton também fala das dificuldades enfrentadas pelos artesãos, como por exemplo, as obras do metrô e a falta de segurança. “Depois do início das obras, o número de turistas diminui. Também houve uma fuga de alguns expositores”.
O artesão Antonio Marcio Gusmão também compartilha da mesma opinião. Para ele, a feira hoje, está descaracterizada, perdeu um pouco da essência inicial. “As bancas estão todas amontoadas, não temos espaço para mostrar nosso trabalho, além de ter muitos produtos industrializados”. Ele também cita o descaso por parte da prefeitura, como outro grande problema do local.
Antonio trabalha com pedras e minérios e praticamente viu a feira nascer. Há 42 anos veio com a família de Vitória da Conquista, no interior da Bahia e já, naquela época, acompanhava o pai na feira. Hoje, é ele quem fala com propriedade das pedras e suas características. “As pedras são extraídas dos
Estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia e até mesmo de São Paulo. Os minérios estão presentes em todo lugar”. Ele também diz, que seus produtos se caracterizam como artigo para colecionadores ou para estudos, para uma classe mais seleta.
Já, os pontos de crochê, que nas mãos da artesã Benedita Lurdes Silva, se transformam em toucas, boinas e bolsas, agradam a muita gente. Sentada atrás de sua banca, com as mãos ocupadas em mais uma de suas criações, ela declara a paixão pela feira e pelo trabalho com as lãs. “Eu amo isso aqui, é minha vida”.

Os percalços e dificuldades
Mas esta paixão de Benedita, já esteve ameaçada por diversas vezes. Ela fala, que para garantir o direito ao trabalho, já participou de inúmeras passeatas e reuniões com a ex-prefeita da cidade, Marta Suplicy. Tudo isso, por que em 1991, o prefeito Celso Pitta, proibiu os artesãos de exporem na República, e a única alternativa, foi montar uma feira paralela, do outro lado da praça.
Desde o começo, a feira sempre esteve sob o risco de extinção, não havia um órgão responsável pela administração e organização das barracas, eram os próprios trabalhadores que tentavam se organizar. Hoje, é a prefeitura quem cuida da admissão de novos artistas, que precisam provar que são os responsáveis pela criação das peças, assim dificulta a venda de produtos industrializados.
Outra questão que é concesso entre os artistas é a segurança. Com o crescimento desenfreado e não planejado da cidade, aumentou também o número de excluídos que habitam os arredores da praça. Para tentar resolver esse problema, eles contrataram uma empresa particular, que garante a segurança do local, enquanto a feira acontece.

Cinqüenta anos atrás
Muitas foram as contribuições para a formação da feira como a conhecemos hoje. Tudo começou, lá pelos meados dos anos 50. Um grupo de filatelistas, pessoas que colecionam selos e moedas, se encontrava na praça da República, para trocar informações e artigos.
Enquanto isso começa a surgir, nos Estados Unidos, o movimento hippie. Os jovens daquela época resolveram abandonar casa e família e formar saciedades alternativas, em protesto contra a guerra do Vietnã. Mais tarde, esta ideologia de paz e amor se espalharia pelo resto do mundo.
Na praça da República, essa expressão se deu através da arte e foram os bichos grilos, que abriram espaço para os mais de 560 artesãos, que hoje, compõem a feira. O artesão Cosme da Silva Ferreira é um dos seguidores dessa ideologia. Ele se considera um hippie, pois na juventude, também abandonou a família para protestar contra a guerra e viver da sua arte. “Os hippies nasceram para protestar, nós somos contra a guerra”, diz Cosme.

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