20 de junho de 2010

Região central de Itaquera pode abrigar Casa da Memória

Antiga casa do chefe da estação vai passar por reformas para preservar a história do bairro. Iniciativa partiu dos próprios moradores que querem a revitalização do centro



Itaquera. Bairro das fazendas de café, das pedreiras, dos imigrantes. Entre as tantas histórias do bairro, a locomotiva 353, mais conhecida como Maria Fumaça é uma das mais marcantes na memória dos antigos moradores. Fundada em 1875, a estação de trêm ainda sucita muitas discussões.
Demolida em 2004, para não atrapalhar as obras de extensão da Radial Leste, a estação tinha uma casa, que abrigava o chefe da ferrovia. Agora, os moradores solicitam, junto a subprefeitura, a transformação da antiga moradia em museu para preservar a história da região.
Esse projeto, nomeado Casa da Memória, faz parte do esforço de representantes do bairro para revitalizar o centro de Itaquera, que também inclui a conclusão das obras do Parque Linear, da Praça da Estação, do baixo viaduto e da passarela metálica.
A aposentada Madalena Pellicci Monteiro, 74, faz parte desse movimento para salvar a estação de Itaquera e afirma, que a Maria Fumaça era muito importante para a região. “A vida de Itaquera estava toda naquela estação e a casa do chefe representa a simplicidade do lugar”.
Pellicci nasceu e cresceu em Itaquera e luta para manter viva a história do bairro. “Esse lugar é o ar que respiro, por isso me interesso tanto por sua história. É uma paixão para mim”.
A aposentada participa das reuniões do Conselho Gestor, que conta com o apoio da população e autoridades da região e afirma, que a subprefeitura tem verba para recuperar a casa e tranformá-la em um museu. Mas, segundo a assessoria de imprensa do órgão, a reforma da antiga moradia do chefe da estação já foi licitada e deve começar ainda este ano, porém, não há previsão para a conlusão do projeto de memória.
Mas, nem todos concordam que a Casa da Memória seja a melhor opção para Itaquera. Mesmo respeitando a opinião dos que querem a reforma da antiga moradia, o advogado Francisco Nicolau, 84, se diz a favor da modernidade e acha que a despesa com as obras é dispensável. “Além do lugar ser pequeno, para abrigar um museu, a subprefeitura também terá que contratar vigias para cuidar do local.”

Viva, viva, viva o Parque Raul!

Há 20 anos, Parque Raul Seixas é opção de cultura e lazer para as famílias do conjunto habitacional José Bonifácio.


Em 1989, o Brasil perdia um dos grandes nomes de sua música. No mesmo ano que morria o baiano Raul Seixas, o bairro de Itaquera ganhava um parque que levava o nome do cantor.
O parque é o primeiro espaço público brasileiro a homenagear Raul. A escolha do nome é o resultado de um consenso entre a Subprefeitura de Itaquera, a Secretária de Cultura e entidades, que na época escolheram o nome do “maluco beleza”, entre outros, como Luiz Gonzaga, para nomear o espaço recém inaugurado. Antes do Parque Raul Seixas, o lugar abrigava a casa do Padre João, que fazia parte das terras da Fazenda Morganti.
Quase 21 anos depois de sua inauguração, o local é frequentado pelos moradores do Conjunto Habitacional José Bonifácio, localizado na região. Ao caminhar pelo parque é comum encontrar mães e pais observamdo as crianças, que se divertem no playground.
A funcionária pública, Sylvia Blat e suas filhas, as gêmeas Sarah e Stella, 5, freqüentam o Parque Raul Seixas e, enquanto as meninas brincam na areia, a mãe fala que o espaço é uma boa opção, por ser próximo de sua casa e também pela segurança. “Eu gosto de estar aqui, me sinto segura e as meninas também gostam”.
Sylvia mora na região, há 40 anos e afirma que o parque é imprenscidível para a comunidade. “Aqui, as crianças encontram um lugar para brincar, ou seja, aqui elas podem ser crianças”, explica a funcionária pública. Mas, ela reconhece que o local precisa de mais atrativos. “A subprefeitura devia montar uma pista de Skate e também, contratar professores de educação física para acompanhar os jovens que vêm praticar esportes”.

Casa de Cultura


Além da área verde, o parque também conta com a Casa de Cultura Raul Seixas, um espaço reservado para manifestações culturais. Um exemplo é o projeto Baubá, que há quatro anos, ensina os passos e o ritmo da capoeira para crianças e adolescentes da região.
As aulas de capoeira, ministradas pelo professor José Bezerra Sobrino, mais conhecido como Zezão, são realizadas aos sábados, a partir das 10 horas. Aulas de yoga e thai-si-chuan também fazem da programação da casa.
Edson Torrisi trabalha, há 15 anos, como agente cultural na casa e afirma, que o parque é como o fundo do quintal dos moradores do conjunto habitacional José Bonifácio. “Os finais de semana são movimentados por aqui, principalmente o domingo. Se tem sol, tem movimento”, explica Torrisi.




Serviço:
Parque Raul Seixas
Endereço: Rua Murmúrios da Tarde, 211 – Conj. Habitacional José Bonifácio.
Dias e horário: de segunda a segunda, das 6 às 18 horas
Informações: 2527-4142

19 de junho de 2010

Os índios e nós













O caminho que leva para a aldeia Guarani Tekoa Pyau é praticamente deserto de pedestres, o que se vê mesmo é a movimentação de carros e caminhões, parece um lugar de passagem. E passando por lá, eu e mais três amigos visitariamos a aldeia pela primeira vez. Mas, antes de entrarmos no território dos índios, passamos primeiro por uma rua onde a calçada é repleta de folhas secas e é preciso ficar atento, para não bater a cabeça nos galhos mais baixos das árvores. A impressão que tenho é de não estar mais em São Paulo, exceto pela rodovia dos Bandeirantes.
A rua segue asfaltada até a entrada da aldeia. Lá, o chão é de terra, com a qual as crianças têm uma forte relação, perceptível até aos mais destraídos. Descalças, elas correm por todo o território, pulam nos bancos de areia e se escondem entre as poucas árvores existentes no lugar, sempre gritando palavras na língua Guarani. Tupã, uma das lideranças da Tekoa Pyau e também nosso guia, diz que esse contato com a terra é muito importante para os pequenos guaranis. “As nossas crianças são criadas assim, livres. Elas crescem mais saudáveis, a terra ajuda a criar anticporpos.”
Além dos traços diferenciados, do tom mais escuro da pele e dos cabelos negros e lisos, as crianças guaranis são sempre muito sorridentes e hiperativas. Talvez, seja isso o que mais me encanta, a inocência de não saber o que se passa com seu povo. Pena mesmo, é não conseguir conversar com nenhuma delas. Na aldeia, os pequenos só aprendem o português após os 7 anos de idade, até lá, só falam em Guarani. Algumas crianças mais velhas tentam me ensinar algumas palavras de sua língua, mas é quase uma tortura vê-las conversando e não poder participar.
Mas, da mesma forma que elas convivem com a terra, também estão próximas demais dos perigos de ter uma rodovia como quintal de casa. Em uma das minhas visitas, vi um pequeno guarani que para se divertir, pegou um pedaço de papelão, passou por um buraco na parede que dava para a Bandeirantes e escorregou pela encosta da rodovia.
Os Guaranis de hoje dividem o espaço com a rodovia que leva o nome dos algozes de seus antepassados, os Bandeirantes. Como nós, homens brancos, os moradores da Tekoa Pyau também têm de conviver com o barulho e a poluição de estradas e avenidas, mas no caso deles, o destino agiu com mais irônia. Na época da colonização, os Bandeirantes eram homens que adentravam as matas, capturando os povos indígenas na busca por riquezas. Nas palavras do índio da etnia Kayapó Edson, que visitava a aldeia, “esses homens mataram milhares de índios e hoje são considerados heróis. Tem até uma rodovia que leva o nome deles.”
Mesmo sendo de outra tribo (Kayapó), Edson foi bem recebido e sempre que visita a aldeia Guarani, encontra abrigo. Para o índio, todos os povos indígenas são parentes, não importa em que parte do mundo estejam. Essa é apenas uma das tantas lições que eles têm a nos ensinar. Mas, essa prática parece ser recorrente só entre eles, pois devo confessar, que o primeiro contato com eles não foi fácil.

O primeiro contato

Acredito que o contato dos primeiros portugueses com os índios que aqui encontraram foi infinitamente mais fácil, do que o que tivemos de travar nessas visitas a Tekoa Pyau. Os colonizadores daquela época não tinham o peso e a vergonha de mais de 500 anos de extermínio, usurpação e escravidão dos povos indígenas.
Os índios chamam o homem branco de juruá e nunca senti tão intensamente essa diferença entre nós, quanto nessas visitas. Em todas as vezes que estivemos na aldeia, nossa relação nunca foi fácil. Fora as crianças, que sempre paravam e sorriam para nós e o nosso guia Tupã, todos os outros sempre procuravam ficar distantes. Conversar com eles é quase impossível, às vezes, até conseguiamos arrancar um sorrriso ou um “bom dia” de alguns.
Certa vez, tentei puxar conversa com o Senhor José, uma espécie de médico, que conhece as raízes e seus benefícios para a saúde. Quis saber qual planta usar para curar uma dor muscular, a resposta do velho índio foi incisiva: “não sei o nome de todas as plantas, reconheço só quando as vejo, daí sei para que servem”. Após dizer isso, ele se afastou.

A vida na aldeia

Mas, o silêncio era reservado apenas para nós, os juruás, entre eles havia conversas e sempre em Guarani, mesmo na nossa frente. A aldeia também é bastante movimentada, as crianças estão por toda parte - ao todo são mais de 250 – e enquanto brincam, os adultos se reúnem em volta de uma fogueira para comer e tomar chimarrão. Tupã diz, que essa prática é muito antiga entre eles.
Andar pela aldeia e não perceber o quanto a nossa cultura já está presente na vida deles é quase impossível. Dentro das ocas, geralmente feitas de madeira, as músicas que eles ouvem são as nossas, vestem as nossas roupas, apesar de não se importarem com a combinação de cores e estilos. A maioria tem celular que, ou está pendurado no pescoço, ou dentro do bolso. Mas, não é muito difícil enxergar o choque das duas culturas, em que outra situação encontrariamos um povo falando o Guarani em um telefone celular? Só o fato de encontrarmos índios que ainda falam sua língua mãe e ensinam isso para suas crianças dentro de uma cidade como São Paulo, já é admirável.
Mas, não são só elementos da nossa cultura que encontramos na aldeia. A prática de fumar cachimbo também é comum entre os homens e mulhere da tribo. Segundo Ubiratã, um Tupinamba que também estava de visita, quando um índio acende um cachimbo ele faz uma oração para Tupã (Deus) e se o fumante cuspir, é sinal de que a prece está sendo atendida pelo deus. A famosa expressão “cachimbo da paz” tem razão de ser. Quando um índio vai visitar uma tribo de etnia diferente da sua, ele sempre leva consigo seu fumo, pois o ato de acendê-lo significa que veio em missão de paz.

A resistência

Nessas primeiras idas à aldeia Tekoa Pyau, nosso contato mais intenso foi com Tupã, uma espécie de porta-voz dos índios guarani. Sua missão é justamente essa, conversar com os juruás que chegam e não é difícil entender o porque. Em todas as vezes que estivemos por lá, encontramos pessoas da Fundação Nacional dos Índios (Funai), do Controle de Zoonoses da prefeitura e até mesmo de grupos religiosos.
Tupã nos acompanhava nas caminhadas pela aldeia e nos falava sobre o dia-a-dia da tribo. Repetidas vezes, sentamos na casa de oração, uma espécie de igreja, onde são feitos os ritos e cerimônias religiosas e conversamos sobre as tradições da cultura indígena.
Claro, que durante esse meio século de convivência com os juruás, muita coisa se perdeu. Eles não têm mais a vastidão das matas para caçar, nem os rios para se banhar todas as manhãs, mas a consiciência de ser índio, ainda prevalece.
Eles sabem da difícil condição de seu povo, principalmente, quando estão inseridos em uma grande metrópole. Conhecem seus direitos e lutam para que sejam respeitados, inclusive quando se trata de reconhecê-los como os primeiros habitantes dessas terras. Fazem questão de ressaltar, que a história da colonização foi contada errada.

14 de junho de 2010

Depois da África do Sul...

















Apesar de estarmos na metado do ano, 2010 ainda está longe de acabar. Alguns acontecimentos ainda prometem estender esse ano até outubro. Claro, não sem antes, passar por junho e julho.
Durante esses dois meses, todas as atenções, sobretudo da grande mídia, estarão voltadas para os jogos da Copa do Mundo, que se realizará no longinquo Continente Africano, mais especificamente, na África do Sul, o país do Aphartaid e Mandela.
Em outrobro, teremos as eleições. Mas, até o final da Copa, as notícias sobre candidatos e alianças ficarão esquecidas nos impopulares cadernos de política do jornais diários. Talvez, entre um gol aqui e uma falta ali, alguém se lembre que esse ano elegeremos novos Governadores, Senadores, Deputados Federais e Estaduais e um sucessor para Lula.
Contudo, apesar da predominância do verde e amarelo da seleção brasileira, um cinza das acusações e escandâlos, tão característicos em época de eleição, consegue espaço nas páginas e telas da mídia nacional. A bola da vez, é o suposto esquema de espionagem, organizado pela equipe da pré-candidata Dilma Rousseff contra José Serra e seus tucanos.
Uns se fazem de vitimas, outros de desentendidos. Mas, a campanha não para, apesar de ainda não ter começado, pelo menos, oficialmente. Na televisão, anúncios da expansão do metrô, da construção de hospitais e escolas, melhoria no transporte e por aí vai.
Qualquer inauguração serve, sempre a mesma ladainha. E a grande mídia insiste em atacar apenas o cabo eleitoral de Dilma. Quem inventou mesmo a história de ouvir os dois lados? Entre os dois maiores pré-candidatos à presidência, não fica difícil perceber que tem o aval de famílias, como Marinho e Frias.
Eu só espero, que quando a campanha começar oficialmente, os candidatos deixem de lado os ataques e picuinhas e se concentrem em apresentar suas propostas e o que de fato querem fazer para melhorar o país. De nossa parte, torço que a Copa passe e as eleições possam então, entrar na pauta dos assuntos importantes do ano.