4 de outubro de 2008

Dores da alma

De dentro do quarto improvisado no pequeno barraco, a criança chora e na cozinha a mãe também o faz. Diante da mesa vazia e do descaso da humanidade, as lágrimas se transformam em súplicas de um coração materno. A Tv desligada não mostra sua história. A mãe sabe, apenas de ouvir falar, das cenas que a máquina narra, mas para ela e seu filho algumas cenas são tão reais e causam tanta dor. O pequeno anjo agora dorme e enquanto sonha, na mais bela inocência, aumenta o número dos que passam fome. O sono agora é um alívio, para ambos. Ela se pergunta, mas não acha o caminho, apenas vaga pela miséria da vida e de suas esperanças. O que fazer com tanto desespero? Onde curar a dor da fome e do coração? E lá fora, o vento gelado sopra as mesmas desilusões, se ao menos todos se ajudassem? Por que eles não tentam dividir também as dores e não somente os humanos? Agora outro filho, que não se sente filho, volta a chorar e desesperadamente tenta sonhar. Além da comida, o que lhe falta é também ternura, toda a preocupação contida no abraço quente da noite e a certeza de não saber o que é a solidão. O medo e o silêncio mortal das noites sobram a muitos, mas isso agora não importa, há coisas mais valiosas que um pedido de socorro. Quem sabe para o próximo mandato? O pequeno barraco reúne todas as dores do mundo, não é o mundo perfeito onde muitos pensam viver. Essa irritante inércia insiste em gritar que nem tudo é igual na dor, ao menos para isso ela serve. Felizmente somos capazes de medir os sofrimentos, só não capazes de senti-los e às vezes o sentido conceitual das relações humanas é praticado por que não o conhece. Mas, entre as angústias essas simples e serenas relações, enchem de esperança a noite das nuvens perfeitas e trazem de volta aquele antigo brilho do céu.

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