28 de março de 2012

Seu João

Há mais ou menos quatro anos, a vida me permitiu conhecer Seu João. Naquela época, eu estagiava em uma grande empresa e era esse senhor que, todos os dias, me fazia companhia durante meu horário de almoço. Era quase um ritual sagrado encontrá-lo sentado em frente ao Parque Trianon Masp, onde ele passava os dias pedindo dinheiro para conseguir sobreviver nessa tão errada sociedade.
Nas tardes em que passei sentada ao lado de Seu João, em meio à movimentada Avenida Paulista, aprendi muitas coisas que ainda guardo no coração e no caráter. Percebi que as melhores pessoas com que eu posso conviver, são aquelas que carregam em suas palavras e atos a verdadeira simplicidade de espírito. E Seu João era uma dessas pessoas, que tanto bem fazem a minha alma. Durante nossas conversas, enquanto ele me contava suas histórias, aprendi que mesmo diante do mais terrível sofrimento, é possível manter no rosto e no coração, a mesma alegria e serenidade dos tempos de criança.
Infelizmente, há mais de um ano não vejo Seu João. Hoje, no seu lugar encontro apenas a árvore que nos acolheu nos dias de Sol. Às vezes, a lembrança daquele doce senhor ainda me faz sorrir e agradecer por ter tido a chance de conhecê-lo.
Escrevo isso, pois a vida parece nos provocar a todo instante. Explico melhor. Hoje, já formada, trabalho na região da Luz e todos os dias, cruza o meu caminho um senhor que me lembra em muita coisa Seu João. Não sei o seu nome e nem conheço suas alegrias e tristezas. A única certeza que tenho é que ele vende balas. Talvez para sobreviver. Ainda não tive coragem de me aproximar e tentar uma nova amizade. Mas esse pensamento não me abandona e toda vez me lembra, que posso estar perdendo o privilégio de conhecer outra grande pessoa.

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