28 de março de 2012

Seu João

Há mais ou menos quatro anos, a vida me permitiu conhecer Seu João. Naquela época, eu estagiava em uma grande empresa e era esse senhor que, todos os dias, me fazia companhia durante meu horário de almoço. Era quase um ritual sagrado encontrá-lo sentado em frente ao Parque Trianon Masp, onde ele passava os dias pedindo dinheiro para conseguir sobreviver nessa tão errada sociedade.
Nas tardes em que passei sentada ao lado de Seu João, em meio à movimentada Avenida Paulista, aprendi muitas coisas que ainda guardo no coração e no caráter. Percebi que as melhores pessoas com que eu posso conviver, são aquelas que carregam em suas palavras e atos a verdadeira simplicidade de espírito. E Seu João era uma dessas pessoas, que tanto bem fazem a minha alma. Durante nossas conversas, enquanto ele me contava suas histórias, aprendi que mesmo diante do mais terrível sofrimento, é possível manter no rosto e no coração, a mesma alegria e serenidade dos tempos de criança.
Infelizmente, há mais de um ano não vejo Seu João. Hoje, no seu lugar encontro apenas a árvore que nos acolheu nos dias de Sol. Às vezes, a lembrança daquele doce senhor ainda me faz sorrir e agradecer por ter tido a chance de conhecê-lo.
Escrevo isso, pois a vida parece nos provocar a todo instante. Explico melhor. Hoje, já formada, trabalho na região da Luz e todos os dias, cruza o meu caminho um senhor que me lembra em muita coisa Seu João. Não sei o seu nome e nem conheço suas alegrias e tristezas. A única certeza que tenho é que ele vende balas. Talvez para sobreviver. Ainda não tive coragem de me aproximar e tentar uma nova amizade. Mas esse pensamento não me abandona e toda vez me lembra, que posso estar perdendo o privilégio de conhecer outra grande pessoa.

13 de março de 2012

Quando São Paulo virou Sertão

Em meio ao velho burburinho do vai e vem de pessoas no terminal mais famoso de São Paulo, um ônibus estacionado em uma das plataformas chama atenção. Lá dentro, a cotidiana figura do cobrador dá lugar a um violeiro contador de causos. Cortinas de saco, tapetes coloridos e lampiões completam o cenário para uma viagem inesquecível.
No último sábado, os usuários do Terminal Parque Dom Pedro II embarcaram em um ônibus rumo ao sertão brasileiro, onde conheceram uma história de amor tão brasileira, que não poderia ter outro nome se não, Cordel do Amor Sem Fim.
A trama se desenrola no corredor do coletivo, onde os atores da Trupe Sinhá Zózima brincam com a imaginação do público e trazem as águas do Rio São Francisco para as ruas e avenidas da cidade de São Paulo. Enquanto as cenas da noite paulistana passam lá fora, quatro habitantes de uma pequena cidade mostram a beleza e a tragédia de suas vidas ligadas por um único e imortal amor.
No final do espetáculo os lampiões se apagam e o violeiro cala sua viola. Mas o ônibus continua lá, sempre a espera de novos viajantes.

Palavras da minha grande amiga, Anelize Moreira...

Todos meus amigos e digo amigos mesmo, daqueles que jamais dá pra se colocar um rótulo nele de "colega", quando um desses sujeitos surgem na minha vida, minha intuição logo o reconhece.
Ela me diz que não é ao acaso, e as pessoas surgem para fazer parte de uma crendice minha, em que cada um é um retalho de tecido que compõe uma grande e bela colcha colorida que é a minha vida.
Alguns tecidos rasgam, mancham, perdem a cor com o tempo..outros se mostram cada vez mais bonitos com o passar dos anos. Cada um com a sua missão, fica o tempo necessário, nem mais, nem menos, apenas o devido.
Você Mi, com certeza é uma daqueles retalhos azuis, claros, escuros, mesclados, azuis esverdeados, com florzinhas roxas, amarelas... sem muito exageros, apretechos, caprichosos ...
E para dar sentido a grande colcha, quando olho a estampa que você representa, lembro as mais belas virtudes que vejo em mim. Você me lembra de que sou um ser "social" e ressuscita toda paixão, toda revolta e toda compaixão pelo ser humano.
Você deve se perguntar, porque a Ane escreveu isso? Realmente não sei te dar uma resposta concreta. Não é seu aniversário, dia das mulheres já passou, também não é dia do jornalista e nem do amigo.
Lhe escrevo, porque por vezes as palavras ficam aprisionadas nos meus "cadernos", em mim e percebo que a beleza delas reside em exatamente fazê-las existir, fazer com que cada sentimento seja visto, cheirado, tateado, enfim...não sei apenas senti e coloquei aqui. Apenas queria lhe dizer, obrigada pela sua humildade, simplicidade e por estar sempre por perto.
Percebi que cada retalho só ganha cor, assim, compartilhado.

Beijos
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